Além dos gatos, cães e humanos podem ser infectados pela doença
Uma alta no registro de casos de esporotricose — micose causada pelo fungo do gênero Sporothrix — tem preocupado a comunidade científica no Brasil. Durante o 23º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado em Salvador (BA), de 19 a 22 de setembro, foi discutido o avanço da doença em estados brasileiros. Apenas em 2023, no estado de São Paulo, os casos de esporotricose aumentaram 40% no período de janeiro a setembro. No Paraná, os registros da doença em animais e humanos também dobraram de 2022 para 2023.
O fungo Sporothrix pode ser encontrado no solo e em vegetais, principalmente em materiais como espinhos, farpas, gravetos e madeira. Ele apresenta duas formas em seu ciclo de vida: micelial, quando ainda está presente na natureza e em compostos orgânicos; e levedura, quando já está na forma parasitária e pode infectar animais e seres humanos.
Em razão do aumento da disseminação da doença, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica sobre a esporotricose em maio deste ano. Considerada um caso de zoonose por ser transmitida por animais, a doença foi classificada pelo órgão como “um grave problema de saúde pública”. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento apenas para humanos, o que dificulta o atendimento público a animais infectados.
A doença infecciosa é passada para seres humanos por meio do contato do fungo com lesões na pele. No caso da transmissão entre um animal para um humano, ela se dá por mordidas e arranhões. Atualmente, o gato é o principal animal vetor da esporotricose, levando o Sporothrix nas garras, saliva e sangue, quando infectado. Cachorros também podem ser contaminados pelo fungo.
Quando a contaminação é feita pelo contato com materiais orgânicos, a infecção é espalhada pelo fungo Sporothrix schenkii. Já na transmissão por felinos, é disseminado o Sporothrix brasiliensis.
“Atualmente, no Brasil, 90% dos casos são causados pela brasiliensis, a transmissão felina. Cachorros e humanos não transmitem, só gatos”, declarou o infectologista Flávio Telles durante o Congresso Brasileiro de Infectologia. É importante ressaltar que os gatos não são culpados pela doença, e sim vítimas, devendo tratados quando infectados.
A esporotricose pode causar lesões e feridas na pele (em camadas superficiais e profundas), nos ossos e, em casos mais graves, chega a afetar órgãos e sistemas internos. Existem diferentes formas clínicas da doença, de acordo com classificação dada pelo Ministério da Saúde:
Esporotricose cutânea: quando há uma ou múltiplas lesões, localizadas principalmente em mãos e braços
Esporotricose linfocutânea: é a mais frequente; são formados pequenos nódulos (como caroços) na camada da pele mais profunda. Surge principalmente nos membros, como mãos e braços.
Esporotricose extracutânea: aqui a doença se espalha para outros locais do corpo, como ossos e mucosas (cavidades úmidas do corpo).
Esporotricose disseminada: a doença se espalha para outros pontos do organismo, com comprometimento de vários órgãos. Neste caso, a infecção em seres humanos também pode causar tosse, febre e falta de ar.
A esporotricose pode se tornar letal, principalmente para os felinos, caso não seja feito o tratamento correto. Os gatos são os mais afetados pelo problema. No homem, a doença pode se tornar grave dependendo do sistema imunológico (que protege o corpo) de cada pessoa, mas geralmente não apresenta perigo de vida. Pessoas com um sistema de defesa mais frágil podem enfrentar dificuldades no tratamento da infecção.
O tratamento da esporotricose é feito com o uso de medicamentos antifúngicos e pode durar de três meses a um ano, dependendo da evolução da doença. Deve ser orientado por um médico e acompanhado de perto durante todo o processo. Maneiras de se prevenir contra a doença incluem cuidado ao andar em áreas de contato com o solo e plantas, usando roupas e sapatos adequados.
Em relação ao cuidado com animais, donos de gatos e cachorros não devem deixar o bicho com acesso livre às ruas e eles devem ser cuidados se contraírem a doença.
Glossário:
Micose: infecção causada por um fungo.
Fontes: Ministério da Saúde, Folha de S.Paulo, nota técnica do Ministério da Saúde, O Globo, Viva Bem – UOL e Centers for Disease Control and Prevention.
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