Como falar sobre a tragédia em Brumadinho com as crianças? O que fazer para que elas entendam com clareza toda a complexidade desse fato? Como explicar conceitos difíceis, como minério de ferro, barragem e rejeitos? “Era um assunto que estava sendo comentado em todos os lugares – casas, escolas, televisão, entre outros. As crianças querem
Como falar sobre a tragédia em Brumadinho com as crianças? O que fazer para que elas entendam com clareza toda a complexidade desse fato? Como explicar conceitos difíceis, como minério de ferro, barragem e rejeitos?
“Era um assunto que estava sendo comentado em todos os lugares – casas, escolas, televisão, entre outros. As crianças querem entender mais”, diz Stéphanie Habrich, fundadora e diretora executiva do Joca. “Elas podem imaginar coisas – nem sempre condizentes com a realidade – a partir do que escutam e isso pode deixá-las ansiosas. Por isso, a explicação é muito importante. As crianças fazem parte da sociedade, precisam ser tratadas com respeito e participar das discussões.”
Na casa de Stéphanie, as conversas sobre a tragédia em Brumadinho começaram logo após a notícia do rompimento. Acostumada a discutir com os filhos sobre fatos do Brasil e do mundo, ela foi acompanhando com eles o desenrolar dos acontecimentos. “Expliquei o que era uma barragem, para que serve o minério de ferro, sobre as vidas perdidas, o impacto ambiental e falei a respeito do que já tinha acontecido em Mariana”, conta.
Para Stéphanie, é importante que, na hora de conversar com as crianças sobre acontecimentos delicados, os pais ou responsáveis fiquem atentos às reações dos jovens e cuidem para que o diálogo seja proveitoso. “Acho que é preciso falar sobre o fato com calma e serenidade, mas sem perder de vista que o assunto é importante. O adulto deve sentar com a criança, olhar no olho dela e falar com todo o tempo do mundo, sem distrações”, recomenda a diretora executiva do Joca. “Ao final, o responsável deve ter a certeza de que a criança teve todas as suas perguntas respondidas.”
Cobertura do Joca
Desde o fim de janeiro, quando a barragem em Brumadinho se rompeu, o Joca vem publicando reportagens sobre o ocorrido. Na primeira delas, capa da edição 124 (a primeira de 2019), o jornal explicou o que havia acontecido, falou sobre a relação com a tragédia de Mariana e trouxe pontos mais específicos, como explicações sobre o que são barragem, minério de ferro, rejeitos – algo semelhante ao que Stéphanie havia feito com os filhos.
“A contextualização é fundamental para o jornalismo infantojuvenil”, diz Maria Carolina Cristianini, editora-chefe do Joca. “Dessa forma, o entendimento se amplia.”
Nas edições seguintes, Brumadinho continuou sendo tema recorrente no jornal, que decidiu ir além de seu compromisso com a notícia e a explicação dos fatos para os leitores. A equipe do Joca, apoiada em um dos valores da publicação – dar protagonismo a jovens e crianças – sentiu a necessidade de fazer algo mais prático em relação à tragédia. Assim, surgiu a ação “Envie uma Carta Para Brumadinho”, na qual leitores foram convidados a mandar mensagens de apoio às crianças da cidade.
Ao todo, a redação do Joca, que ficou encarregada de receber as mensagens e enviá-las para as escolas de Brumadinho, recebeu mais de 2.200 cartas, vindas de diferentes regiões do Brasil e até do exterior. Por meio de textos, desenhos e colagens, os estudantes mostraram sua solidariedade para com os jovens moradores do município afetado, que ficaram contentes em receber os recados. Alguns, inclusive, responderam as mensagens e continuaram a se comunicar com os remetentes.
“Apesar de ser uma ação difícil de ser executada, sabíamos que era importante”, ressalta Stéphanie. “As cartas fizeram com que os leitores entendessem o que estava acontecendo em Brumadinho, se colocassem no lugar das crianças de lá e, de alguma forma, pudessem participar de uma ação de solidariedade. Eles agiram para melhorar a situação. Ficamos imensamente felizes com a quantidade de cartas recebidas.”
Para que os leitores tivessem uma visão mais aprofundada sobre os impactos humanos e ambientais do ocorrido, a equipe do Joca foi até Brumadinho no início de maio para visitar escolas que participaram da ação de troca de cartas e ver, de perto, a situação de grupos e moradores afetados pela tragédia. A viagem resultou em um vídeo sobre a ação das cartas e um especial sobre o momento atual do município, distribuído com a edição 133 do jornal. O vídeo e o especial estão disponível para acesso gratuito: conteudo.jornaljoca.com.br/brumadinho.
“Falar sobre o que aconteceu abre espaço para as crianças e jovens refletirem sobre uma série de aspectos – desde a empatia pelo sofrimento do outro até o que fazer, no futuro, para que algo como o ocorrido em Brumadinho (e Mariana) não se repita”, conclui Stéphanie.
*Com reportagem de Joanna Cataldo.
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