O Japão começou, em 24 de agosto, a despejar no Oceano Pacífico água utilizada para resfriar os reatores da usina nuclear de Fukushima, que aqueceram em um acidente causado por um tsunami em 2011 (saiba mais na linha do tempo).

A Tokyo Electric Power Company (Tepco), fornecedora de energia responsável pela usina, planeja liberar a água residual ao longo de, pelo menos, 30 anos. O líquido, no entanto, contém certa quantidade de radiação que, segundo alguns ambientalistas, poderia prejudicar a saúde de pessoas e animais marinhos.

No decorrer dos últimos anos, a água a ser descartada passou por processos de purificação capazes de eliminar boa parte dos elementos perigosos. Porém, dois deles são extremamente difíceis de remover e permanecem no líquido: o trítio e o carbono-14.

O que diz cada lado?
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (Iaea, na sigla em inglês), a quantidade de elementos radioativos na água está muito abaixo do que é considerado perigoso. Portanto, para a Iaea, o plano da Tepco é seguro.

Entretanto, há cientistas e ambientalistas que consideram que o descarte pode acarretar graves consequências a longo prazo. “A decisão ignora as provas científicas, viola os direitos humanos das comunidades no Japão e na região do Pacífico e não cumpre o direito marítimo internacional. Mais importante ainda, desconsidera as preocupações de seus cidadãos, incluindo os pescadores”, diz comunicado da organização ambiental Greenpeace.

Consequências para o Japão
Pescadores e outros profissionais do setor na região de Fukushima se manifestaram contrários à decisão, pelo efeito que ela pode gerar no mercado de peixes. “Se a água tratada (…) for lançada no oceano, poderá ter um impacto significativo na economia local e desperdiçar dez anos de esforços para se recuperar do desastre”, declara documento dos comerciantes.

Além disso, países como China (grande importadora de peixes do Japão) e Coreia do Sul se mostraram insatisfeitos. O governo chinês anunciou a suspensão da importação de frutos do mar, enquanto boa parte dos sul-coreanos está contra o próprio governo, que apoia a decisão da Tepco.

O evento de 2011 em Fukushima é considerado um dos piores acidentes nucleares da história. Houve 18.428 mortos e desaparecidos, mais de 160 mil pessoas tiveram que fugir em decorrência da radiação e 40 mil seguem desabrigadas.

Linha do tempo do acidente em Fukushima

1. TERREMOTO E TSUNAMI

• Em 11 de março de 2011, um grave terremoto atinge o Japão e leva a um tsunami (ondas gigantes no oceano).

#pracegover: imagem de construções destruídas após o terremoto que atingiu o Japão em 2011. Crédito de imagem: Tepco

• O tsunami, com 14 metros de altura, atinge a usina Fukushima Daiichi, onde havia seis reatores (dispositivos usados nessas usinas). O local era capaz de resistir a tsunamis de 5,7 metros. Na foto, o mar após a onda.

#pracegover: imagem do mar perto da usina de Fukushima, bastante agitado, depois do tsunami. Crédito de imagem: Tepco

• Os três reatores em funcionamento desligam automaticamente, por segurança. Porém, a usina fica sem energia elétrica, fundamental para a atuação de bombas de água que resfriam os reatores.

• Sem refrigeração, o combustível do reator 1 aquece, e a unidade começa a derreter. Nos três primeiros dias, a mesma coisa ocorre nos reatores 2 e 3. Isso leva ao vazamento de vapor radioativo, que é prejudicial à saúde do ser humano

2. DIAS APÓS O ACIDENTE
Começa uma operação para bombear água e resfriar os reatores 1, 2 e 3, contendo o vazamento.

3. ÁGUA CONTAMINADA
Desde então, grande quantidade de água passa a ser usada nesse trabalho. O líquido tem sido tratado e guardado, o que já gerou algo em torno de um milhão de toneladas de água, em mais de mil tanques. A capacidade máxima de armazenamento deve ser atingida no início de 2024.

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#pracegover: em novembro de 2013, a imprensa e funcionários da Tepco, usando trajes de proteção branco e capacete amarelo, passam pelos grandes tanques que guardam a água. Crédito de imagem: Noboru Hashimoto/Corbis via Getty Images

O que diz quem estava no Japão?

“Em 2009, fui nomeado presidente do banco Natixis no Japão e me mudei para Tóquio. [Depois que tudo aconteceu], poderia vir uma nuvem radioativa na direção da cidade. A embaixada da França organizou a distribuição de uma substância chamada iodo, para ser ingerida em caso de contaminação. Tínhamos também que andar com bota e guarda-chuva e deixar as banheiras [nos quartos do hotel] cheias de água, para mergulhar nelas caso a nuvem viesse. Nos supermercados, eles botavam as regiões de origem dos produtos, porque muitos tinham medo de a comida ser de um local contaminado. A gente ficava acompanhando pela televisão para qual direção os ventos iam, atentos ao risco da nuvem. Muitas vezes, fui dormir com a roupa no corpo, caso precisássemos evacuar.” Laurent Girault, francês naturalizado brasileiro, atualmente diretor financeiro do Grupo BPCE.

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#pracegover: Laurent usa camisa azul-clara e blazer preto. Ele sorri. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Glossário

USINA NUCLEAR: produz energia elétrica a partir de elementos radioativos, como urânio.

RADIAÇÃO: propagação de ondas eletromagnéticas ou partículas, emitidas por fontes naturais (como o Sol) ou artificiais (por exemplo, aparelhos construídos pelo ser humano). Alguns tipos de radiação são muito perigosos para pessoas, animais e o ambiente.

Fontes: Agência Brasil, Gabinete do Primeiro-Ministro do Japão, Greenpeace, Iaea, Tepco e Reuters.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 211 do jornal Joca

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Comentários (1)

  • Fernando Camargo

    7 meses atrás

    Bom dia

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