AJDABIYA , LÍBIA 07-03 2011- O fotografo da Folha de S. Paulo Joel Silva no deserto durante cobwertura do conflito em AJDABIYA Líbia. (Foto: Joel Silva/ Folhapress,****MUNDO***
O fotojornalista Joel Silva, da Folha de S. Paulo, em cobertura do conflito na Líbia, em 2011. Crédito: Acervo Pessoal

A profissão de Joel Silva é retratar conflitos armados. Com uma câmera na mão e muita paixão pelo que faz, ele viaja para lugares distantes onde as pessoas estão armadas e lutando umas contra as outras – ou contra o governo.

Aos 52 anos, Joel acampou com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2000, cobriu o golpe militar em Honduras (2009) e retratou a Primavera Árabe, combates no Egito, na Síria e na Líbia, no Oriente Médio. Ele também esteve no Complexo do Alemão, em 2010, quando a polícia ocupou o conjunto de favelas do Rio de Janeiro.

Joel visitou a redação do Joca, em 12 de março de 2018, e contou um pouco de suas memórias, seus medos e sua motivação para arriscar a vida por uma fotografia: revelar ao mundo o que acontece em área violentas.

 Por Antonio Auriemo, de 13 anos

Rebelde lança míssil em direção a um caça da força aérea da Líbia, no deserto próximo à cidade de Ajdabiya. Crédito: Joel Silva/ Acervo pessoal

Como você decidiu ser fotojornalista?
Meu primeiro contato com a fotografia foi aos 13 anos. Um vizinho tirou uma foto da minha irmã e nos deu de presente. Aquilo me deixou curioso. Como uma imagem conseguia ficar fixada no papel? Minha paixão começou ali. Depois, conheci o jornalismo: ia para a escola e ficava observando as fotografias dos jornais na banca. Foi assim que peguei gosto por ler jornal. Com 29 anos, fui estudar fotografia. Gostava tanto que, ao fim do curso, pedi demissão e virei fotógrafo. Fiz uma matéria sobre um vendaval em Ribeirão Preto (interior paulista) e vendi para a Folha de S.Paulo. O jornal me contratou, e eu nunca mais saí de lá.

Qual foi a experiência que mais te marcou?
Todas são diferentes e agregaram algo. Não sei dizer qual foi a mais marcante. Só vou saber quando estiver perto de morrer. Provavelmente, nessa hora, vou dizer que a experiência mais marcante da minha vida foi ser jornalista.

Por que você gosta de trabalhar em zonas de guerra?
O que me leva à guerra não é o fato de eu gostar da adrenalina e, sim, de achar que o mundo precisa ver o que está acontecendo em áreas violentas. Sinto orgulho em saber que algumas das minhas fotos percorreram o mundo inteiro, pois isso significa que, de alguma forma, meu trabalho interferiu em uma situação ruim. Descobri isso porque, no início da profissão, percebi que havia lugares aos quais ninguém prestava atenção, como as periferias. Senti que a minha função era mostrá-los para o grande público.

Como você retrata a verdade de um fato por meio de fotos?
As fotografias precisam informar para fazer sentido. Não podemos apenas fazer fotos bonitas. Na guerra, as coisas estão acontecendo o tempo todo. Posso tirar a foto de uma bomba caindo, e o governo dizer que não lançou aquela bomba. Nesse caso, você está contradizendo a versão do governo. É uma situação complexa. O repórter pode escrever sobre aquela bomba, mas um texto não terá tanto impacto quanto uma foto.

Como não se ferir em uma guerra?
A primeira coisa é fazer cursos de treinamento militar. Não é um curso para aprender a atirar e, sim, para entender como o meio militar funciona. Quando você está na zona de guerra, é preciso saber se proteger, saber o melhor lugar para se esconder em um bombardeio.

Sua família não fica com medo de algo acontecer com você?
Sim, por eles eu não iria para a guerra. Ao mesmo tempo, meus filhos sabem que eu sou cuidadoso e entendem que é isso o que eu gosto de fazer

Você já viu pessoas morrendo, já sofreu atentados. Como isso impactou a sua vida?
Essas experiências fizeram com que eu enxergasse tudo de um modo diferente, aprendi a aproveitar as coisas simples da vida. Depois de cobrir muitos conflitos, comecei a ter estresse pós-traumático e problemas de memória. Mas eu lido com isso com humor. Você pode fazer um problema ficar muito maior ou muito menor. Encaro tudo como desafio, e não como problema.

Você sabe o que foi a Primavera Árabe?
A partir de 2011, parte da população de países do Oriente Médio, como Síria, Líbia e Egito, rebelou-se contra as ditaduras que exerciam poder em seu território. Os rebeldes, como são chamados, lutavam por direito ao voto, liberdade de expressão e melhores condições de vida.

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