O que tem sido feito para que essa tecnologia seja um avanço, e não um problema
Inteligência artificial (IA) é como chamamos a habilidade de algumas máquinas de aprender e raciocinar. Quando elas são capazes de criar algo, como imagens, textos e vídeos, são as inteligências artificiais generativas. O desenvolvimento de algoritmos assim está transformando o mundo e nos apresentando novos desafios. Veja o que está sendo feito e quais são os cuidados a serem tomados para que a IA seja um avanço, em vez de um problema, para a humanidade.
SORA E MUSICFX
No dia 15 de fevereiro, duas novas inteligências artificiais generativas foram anunciadas. A OpenAI, empresa inventora do ChatGPT, anunciou o Sora, voltado à criação de vídeos curtos realistas ou não. Já o Google apresentou o MusicFX, capaz de compor músicas inéditas.
As duas ferramentas funcionam de maneira similar. O usuário digita um texto detalhando o que deseja e as plataformas interpretam o pedido criando algo a partir disso.
O MusicFX não está disponível no Brasil, enquanto o Sora ainda não foi lançado. Sam Altman, CEO (cargo equivalente ao de presidente) da OpenAI, fez uma brincadeira no X (antigo Twitter) na qual produziu vídeos com base nas mensagens que recebia dos seguidores — alguns apresentaram erros. Use o QR code à direita para assistir.
TERAPIA VIRTUAL
Na plataforma Character.ai, o perfil “psicólogo” da IA recebeu mais de 78 milhões de mensagens de pessoas buscando alguma orientação ou se conhecer melhor. O bot foi criado por Sam Zaia, estudante de psicologia que usou livros técnicos da área para treinar a IA.
Apesar de a prática continuar crescendo, especialistas alertam que realizar consultas do gênero não é uma boa ideia. “Boa parte do processo de terapia tem a ver com a empatia e capacidade de compreensão do outro”, disse Natércia Tiba, psicóloga que colabora com a seção “Canal aberto”, do Joca. “E a inteligência artificial não proporciona essa perspectiva de compreensão única de cada um”, completou.
ENTENDENDO GALINHAS
Um grupo de cientistas canadenses está usando a tecnologia para decifrar a linguagem das galinhas. O computador vem analisando horas de áudios para compreender o significado por trás de cada cacarejo ou barulho que a ave faz. Com o tempo, isso pode se desenvolver e será possível entender melhor os animais.
PRIMEIRO FILME ESTRELADO POR UMA IA
Em novembro de 2023, o estúdio Warner Bros. anunciou que está trabalhando em um filme sobre a vida da cantora francesa Édith Piaf (à esquerda). Em vez de escalar uma atriz, porém, uma IA está recriando a artista ao analisar fotos e vídeos antigos. Ainda não há previsão de estreia.
Perigos da tecnologia
Líderes mundiais, diretores de empresas e pesquisadores já demonstraram temores acerca da IA. Algumas das principais preocupações levantadas envolvem a diminuição de empregos e da privacidade, mas um assunto específico é mais urgente: desinformação (ou fake news) durante eleições.
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden iniciou um debate oficial para definir se os sistemas de IA mais poderosos devem ter código aberto, ou seja, se todos podem ter acesso aos detalhes da programação para usar ou modificar. Por um lado, o código aberto permite que a IA evolua mais rapidamente, além de ter mais pessoas atentas a possíveis riscos. Por outro, o acesso facilitado pode favorecer atitudes de pessoas mal-intencionadas ou irresponsáveis.
Em 2 de fevereiro, passou a valer na União Europeia (UE, grupo que reúne 27 Estados-membros da Europa) um conjunto de regras, discutido desde 2023, regulando a utilização da IA. Quem desrespeitar as orientações, como a de colocar uma sinalização em todas as imagens geradas pela tecnologia, terá sua empresa banida das nações que integram a UE.
O Google proibiu que a IA Gemini, propriedade da companhia, crie imagens de pessoas que já existiram. Isso aconteceu depois de a ferramenta ser usada para produzir imagens imprecisas envolvendo figuras históricas.
No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também está trabalhando em normas, muitas delas inspiradas naquelas apresentadas pela UE. Até o fechamento desta edição, o texto seguia sendo debatido pelo órgão.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES DA ÁREA
“Continuamos comprometidos com uma abordagem responsável da inteligência artificial. Estamos continuamente aprendendo a entender os riscos emergentes enquanto também inovamos com ousadia.” Jeff Dean, cientista-chefe do Google, à rede BBC.
“O risco está perto o suficiente para que devêssemos trabalhar muito agora e investir muitos recursos para descobrir o que podemos fazer a respeito.” Geoffrey Hinton, cientista da computação conhecido como um dos pais da inteligência artificial, à agência de notícias Reuters.
“Como a maioria das invenções, a inteligência artificial pode ser usada para o bem e para o mal. Os governos precisam trabalhar com o setor privado em maneiras de limitar os riscos.” Bill Gates, fundador da Microsoft, em seu blog pessoal.
CONVERSA COM ESPECIALISTA
Para entender melhor tudo isso, o Joca conversou com Marcelo Lopes, diretor pedagógico e cofundador da Foreducation EdTech, empresa que promove tecnologias digitais nas escolas.
HÁ BENEFÍCIOS DE IAS GENERATIVAS COMO O SORA, QUE CRIA VÍDEOS, PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES?
Sim, as IAs generativas podem ajudar muito no dia a dia de profissionais, estudantes ou qualquer pessoa que souber elaborar bons pedidos. Para crianças e adolescentes, o Sora pode dar vida aos processos criativos e desenvolver autoexpressão; pode facilitar o aprendizado, criando vídeos de qualquer tema e idioma.
E QUAIS OS RISCOS?
Não temos regulamentação ou leis para as IAs, logo depende de os navegantes “usarem para o bem” e de as empresas terem políticas de segurança e ética.
COMO DISTINGUIR SE UM VÍDEO É VERDADEIRO OU FALSO?
Existem muitas dicas na internet para identificar vídeos falsos, como o piscar de olhos, sombras, movimentos de cabelo, reflexos etc. Também há ferramentas on-line de verificação e sites que investigam conteúdos falsos. Mas, na prática, é muito difícil fazer essa validação, as tecnologias estão evoluindo muito rápido, (…) por isso temos que desconfiar, ser capazes de investigar e usar o senso crítico para tudo o que aparece em nossas telas.
LINHA DO TEMPO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA
Confira alguns dos principais acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento de redes neurais generativas — estruturas computacionais capazes de analisar grande quantidade de dados (como textos e imagens) e gerar conteúdo a partir disso.
1943: os pesquisadores Warren McCulloch e Walter Pitts (foto) publicam o primeiro modelo matemático de um neurônio artificial.
1950: o cientista Alan Turing (foto) apresenta o Teste de Turing, que busca entender a inteligência de uma máquina e avaliar se seu raciocínio equivale ao de um ser humano.
1956: o termo “inteligência artificial” é criado, durante a Conferência de Dartmouth, nos Estados Unidos.
1964-1967: é desenvolvida a Eliza, primeiro robô de conversação. A assistente virtual é capaz de gerar respostas limitadas para perguntas de usuários.
Década de 1980: sistemas de IA são testados em diferentes áreas. Entre eles estão o Alvinn, para direção autônoma de veículos; o Mycin, para atendimento médico ao paciente; e o XCON, que atua no gerenciamento de venda de produtos.
1995: o cientista Richard S. Wallace desenvolve a A.L.I.C.E. (“entidade de computação linguística artificial para internet”, na sigla em inglês), chatbot (robô de conversação) com uma série de avanços.
2008: o Google lança a primeira versão de busca por reconhecimento de voz.
2013: a IBM lança o Watson, feito para gerenciar grandes quantidades de dados e agilizar processos em empresas.
2014: é criada a rede neural adversária generativa (GAN, na sigla em inglês), uma versão mais avançada e precisa de IA — o ChatGPT é uma GAN mais desenvolvida. Os assistentes de voz Alexa (foto), da Amazon, e Google Now Launcher chegam ao mercado.
2022: a OpenAI lança o ChatGPT (ícone à esquerda). A Midjourney apresenta a primeira versão aberta ao público do recurso que gera imagens por IA.
2023: o Google lança o Bard, recentemente rebatizado de Gemini, ferramenta similar ao ChatGPT.
FONTES: AP NEWS, BBC, GATES NOTES, TECHTUDO, FORBES, INVERSE, THE VERGE, CNN, CNBC, OLHAR DIGITAL E PARLAMENTO EUROPEU.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 218 do jornal Joca.
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