A Semana da Imprensa 2023 está sendo realizada entre os dias 13 e 14 de setembro. Esta é a terceira edição do evento, uma iniciativa dos jornais Joca e do TINO Econômico, em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo e o apoio da TV Cultura. A semana apresenta mesas de discussão sobre temas atuais da imprensa, e a primeira delas foi sobre a relação entre jornalismo e inteligência artificial (IA).

Participaram da conversa Bruno Romani, editor do “Link”, seção de tecnologia e inovação do Estadão; Camila Petry, jornalista focada em inovação, tecnologia, negócios e carreira; Edson Capoano, professor de jornalismo da ESPM; e Jorge Tarquini, jornalista, escritor e professor da ESPM.

Os jornalistas responderam perguntas feitas pelos estudantes da escola Terra Mater, de São Bernardo do Campo (SP), e a conversa foi mediada pela Natália Suga, estudante do terceiro semestre da graduação de jornalismo da ESPM. Estiveram presentes também alunos dos Institutos Técnicos de Barueri.

“O futuro está com vocês [jovens], que são quem vai vivenciar as maiores mudanças feitas pela inteligência artificial.”

declarou Bruno na abertura da mesa.

A conversa começou explorando os diferentes usos que podem ser feitos da IA pelos jornalistas. “Existem muitas tarefas do fazer jornalístico que podem ser resolvidas com a inteligência artificial”, afirmou Bruno, que citou ferramentas capazes de transcrever entrevistas, sugerir títulos para matérias e até mesmo melhorar o próprio texto. Confira abaixo algumas perguntas feitas pelos estudantes e as respectivas respostas elaboradas pelos participantes da mesa.

“Onde eu trabalho, temos uma cultura de muita agilidade e tecnologia. Eu descobri que consigo pegar relatórios gigantescos que consulto para escrever matérias e usar a IA para resumi-los, trazendo os principais pontos”,

completou Camila Petry.

A IA pode substituir um jornalista?

“Não. Há uma grande diferença de tempo entre as tecnologias de IA, que possuem uma base de dados limitada, e o jornalista, que consegue checar uma fonte a qualquer momento. Quando eu trabalhava na TV Cultura, eles me mandavam um dossiê enorme sobre a pessoa que ia entrevistar. Agora, com os avanços tecnológicos, não preciso mais disso. O papel do jornalismo, hoje, é trazer a tecnologia a nosso favor, priorizando o interesse público. Com essas ferramentas, eu elimino etapas de um trabalho braçal para aprimorar o meu trabalho intelectual e jornalístico.”

Jorge Tarquini.

“Faz 22 anos desde o ataque às Torres Gêmeas [atentado terrorista ocorrido em Nova York, Estados Unidos, em 2001]. Na época, eu estava trabalhando na TV Cultura e, quando aconteceu, a internet parou de funcionar, porque havia muitas pessoas buscando informações sobre o ocorrido. Imagina o mundo inteiro tentando entender o que estava acontecendo sem ter internet. Então colocamos todos da TV para buscar fontes e conversar com alguém que tivesse mais informações. A IA não conseguiria fazer isso: encontrar soluções mediante problemas. O ChatGPT, ou qualquer outra IA, não conseguiria fazer isso. O ChatGPT é um início rápido para um trabalho; ele gera uma média das respostas feitas para determinada pergunta. Então ele irá substituir, talvez, apenas aqueles profissionais médios. Mas acredito que um jornalista que está sempre aprimorando seu trabalho e se aperfeiçoando jamais será substituído.”

Edson Capoano.

É possível já ver o uso de inteligência artificial nos veículos de imprensa?

“Nas últimas eleições municipais, por exemplo, o G1 utilizou um template já pronto e uma ferramenta IA que ia completando esse mesmo texto com os resultados das eleições para as prefeituras de todo o Brasil e gerando notícias diferentes para cada município.”

Bruno Romani.

Se a inteligência artificial começasse a substituir muitas pessoas nos escritórios de grandes empresas de jornalismo, como a economia seria impactada?

“O jornalismo foi uma das primeiras áreas a serem impactadas pelo forte avanço da tecnologia. Hoje, uma redação tem muito menos pessoas do que havia décadas atrás. Fomos impactados, principalmente, pelo número de vagas; hoje um jornalista faz um pouco de tudo, não há mais jornalistas que trabalham apenas buscando pautas, escrevendo, entrevistando etc. E, nesse sentido, a IA pode levar a uma nova diminuição de vagas.”

Jorge Tarquini.

De que maneiras possíveis falhas de uma inteligência artificial (…) podem afetar a circulação de informações?

“Com a tecnologia, a informação passa a estar na mão de muito mais pessoas. Todo mundo consegue ampliar sua voz, e acho isso incrível. Mas, ao mesmo tempo, cria-se a possibilidade de canais para todo mundo de maneira desregrada. E como olhamos para isso tudo sem uma regulação específica?“

Camila Petry.

Como vocês acham que uma IA pode ajudar na escola, sem prejudicar o aprendizado?

“Ferramentas de IA são pontos de partida, não de chegada. Se você precisa estudar, use a IA como um ponto de partida, que deve ser inclusive checado posteriormente, porque, se você insistir para a IA que dois mais dois são cinco, ela vai encontrar uma maneira de te responder isso.”

Jorge Tarquini.

Sobre a Semana da Imprensa

A Semana da Imprensa do Brasil é inspirada no evento de mesmo nome realizado há mais de 30 anos na França. Durante uma semana, as escolas do país focam em falar sobre jornalismo com os estudantes.

Um dos objetivos do evento é informar e aproximar as crianças e os adolescentes do funcionamento do jornalismo. A ideia é que, desse modo, os estudantes sejam estimulados a uma reflexão sobre como a imprensa funciona e qual é seu papel na sociedade.

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