A Semana da Imprensa 2023 está sendo realizada entre os dias 13 e 14 de setembro. Esta é a terceira edição do evento, uma iniciativa dos jornais Joca e TINO Econômico, em parceria com a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo (SP) e apoio da TV Cultura. A semana traz mesas de discussão sobre temas atuais da imprensa, e a segunda delas foi sobre a relação entre fake news e inteligência artificial (IA). 

Participaram da mesa Cláudia Bredarioli, jornalista com extenso trabalho de reportagem e edição em veículos de grande circulação; Paulo Silvestre, jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, transformação e cultura digital; e Sérgio Lüdtke, jornalista e editor-chefe do projeto Comprova, iniciativa que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações suspeitas.

Os jornalistas convidados responderam perguntas de estudantes dos Institutos Técnicos de Barueri. Quem mediou a conversa foi Ana Luiza Gasparelli, estudante do terceiro semestre de jornalismo da ESPM.

Jornalistas Sérgio, Paulo e Cláudia discutem as relações entre fake news e inteligência artificial no jornalismo

O debate se iniciou abordando a quem é dada a responsabilidade pela propagação de desinformação: ao emissor da notícia falsa ou o receptor que, ao ler a notícia, passa a compartilhar sem saber de sua devida veracidade. A mesa discutiu como seria possível visualizar uma relação de utilização de IA a favor do jornalismo até mesmo para a checagem de fatos, como a busca pela origem de imagens. “Quando a gente repassa algo sem ter noção se aquilo é falso ou verdadeiro, também nos tornamos responsáveis por aquela desinformação”, ressaltou Sérgio Lüdtke.

Além disso, foram debatidas as diferentes formas de narrativa jornalística utilizando a inteligência artificial de modo ético e responsável e como combater a propagação de desinformação com meios de checagem e identificação de conteúdos falsos que, muitas vezes, são propagados pela IA. Confira algumas das perguntas feitas pelos estudantes e as respectivas respostas da mesa.

Quando falamos de IA, a fácil propagação de notícias falsas se dá pela intenção do emissor ou pela desinformação do receptor?

“Se a gente pensar em responsabilizar alguém, é o emissor. Além disso, a desinformação muitas vezes está ligada a política. É muito importante a gente tentar identificar a intencionalidade de quem produz alguma coisa, e essa intencionalidade tem que ser buscada no contexto daquela pessoa, com quem ela se comunica, o que ela publica, como ela se comunica.”

Sérgio.

“Uma coisa que a gente precisa pensar é que se o receptor é uma pessoa bem-informada, ele tende a cair menos em fake news, porque tem senso crítico elevado. Por isso os grupos que propagam fake news atacam a imprensa, já que a imprensa as desmente.”

Paulo.

“É preciso dar atenção aos detalhes. Normalmente, quando navegamos na internet, costumamos olhar rapidamente os conteúdos, mas é nos detalhes que conseguimos identificar algo que não é verdadeiro, como uma imagem gerada por IA. Algo verossímil, que possui um fundo de verdade, mas também traz mentiras, é muito mais difícil de identificar do que uma mentira escancarada.” 

Sérgio.

Como ter certeza de que as informações passadas por IA são 100% verídicas, já que a maioria das pessoas que têm dúvidas não vai atrás das informações por preguiça e só confia sem saber de onde vem a base da resposta?


“Não tenha certeza, porque isso não existe. A inteligência artificial é uma ferramenta isenta de verdade. Ela não tem essa pretensão. O ChatGPT é simplesmente um agrupador de palavras que faz sentido. É uma ferramenta puxa-saco, que sempre vai querer te agradar. O grande desafio que temos é que essa ferramenta está posta e vai ficar, e pode ser excelente se bem usada: nosso desafio é utilizá-la no que ela se propõe, como trazer ideias, um ponto de partida para gerar o que procuramos. Se você incluir um viés, já tiver uma intenção, o chat irá confirmar o que você disse, responder apenas o que você quer. E isso na mão de um produtor de fake news é superperigoso.”

Paulo.

Vocês acham que usufruir desse material não natural em reportagens, para ilustrar ou representar algo que deseja ser expresso pelo autor da matéria, traz mais benefícios ou malefícios? 

“A inteligência artificial já é usada há bastante tempo no jornalismo para coisas que podem ser automatizadas. Por exemplo, quando eu recebo um boletim meteorológico, com notas, dados, coisas desse gênero, a IA ajuda a sintetizar esses dados em um texto. Isso traz muito tempo e produtividade.”

Sérgio.

“Da mesma forma como temos esses riscos sobre a proliferação da desinformação no ambiente da IA, temos novas possibilidades criativas, que podem auxiliar uma construção narrativa a partir da apuração e de todo o processo jornalístico. Um exemplo dado é usar a IA para ilustrar cenários após descrições dadas em reportagens, a partir da fala da própria fonte.”

Cláudia.

O avanço da IA é visto diariamente, mas podemos observar que ainda não existe regulação dessa tecnologia. Vocês acreditam que é preciso existir leis sobre a inteligência artificial?

“Para você regular qualquer coisa, precisa entender muito bem sobre ela; e o grande problema da IA é que não conseguimos compreender completamente o processo por trás disso. Então, a regulamentação deve vir de acordo com a responsabilidade sobre certos resultados. Precisamos regular os resultados, e não a ferramenta em si. É uma questão bastante complexa”

Paulo.

Como a inteligência artificial pode afetar as pessoas no futuro?

O futuro está chegando, e ainda não temos noção do que vai acontecer. Até porque estamos colocando nas redes dados dos quais a IA se apropria para gerar nosso conteúdo. As vozes utilizadas em criações artificiais, por exemplo, já foram colocadas na rede em algum momento da vida. Vivemos em uma situação que aceitamos cookies sem nem pensar no amanhã, mas como vamos navegar sem aceitar? A exposição dos nossos dados é uma questão de sobrevivência. As big techs precisam de regulamentação. É importante que se diga que regulamentação não é censura, são coisas completamente diferentes. Precisamos saber para onde esse barco vai. 

Claudia.

Sobre a Semana da Imprensa 

A Semana da Imprensa do Brasil é inspirada no evento de mesmo nome que acontece há mais de 30 anos na França. Durante uma semana, as escolas do país ficam focadas em falar sobre jornalismo com os estudantes. Um dos objetivos do evento é informar e aproximar as crianças e os adolescentes do funcionamento do jornalismo. A ideia é que, desse modo, os estudantes sejam estimulados a uma reflexão sobre como a imprensa funciona e qual é seu papel na sociedade.

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