Um bate-papo com Jorginho Filho, gari na cidade do Rio de Janeiro
A profissão de gari é uma das mais importantes que existem para a saúde e o bem-estar da população. Além de a função colaborar com a preservação do meio ambiente, todo mundo gosta de viver em uma cidade limpa e livre do mau cheiro causado pelo acúmulo de resíduos e de enchentes, que podem acontecer quando o lixo entope os bueiros nas ruas.
Mas muitas pessoas não se dão conta do quanto o serviço dos garis é essencial. Essa é a profissão do Jorginho Filho, que, além de gari na cidade do Rio de Janeiro, é lutador do UFC (Ultimate Fighting Championship, organização de lutas de MMA, artes marciais mistas). Nesta entrevista, Jorginho explicou muitas coisas sobre o dia a dia da profissão, os desafios e momentos gratificantes que ele já viveu. Confira!
Que tipo de lixo você costuma encontrar nas ruas?
O lixo é sempre muito variado. Depende muito do que as pessoas estão fazendo naquele dia. Às vezes, encontramos materiais usados em festas, como copos descartáveis, latas, garrafas… Nas praias, infelizmente, ainda há pessoas que têm o costume de deixar resíduos como sacolas e embalagens na areia. Mas, de uns tempos para cá, a população anda mais consciente. Temos encontrado bem menos lixo na praia do que antigamente. Isso ajuda muito a gente, que trabalha com limpeza.
Você já achou alguma coisa legal no lixo e levou para casa?
Atualmente, eu trabalho varrendo as ruas. Então, costumo achar chaves, carteiras, celulares. Fico muito satisfeito quando posso encontrar o dono do objeto que achei. Quando eu trabalhava com coleta de lixo, às vezes encontrava algumas coisas em bom estado e dava para alguém que estivesse precisando ou deixava na gerência da companhia de limpeza em que trabalho. Além disso, às vezes, os cidadãos não querem mais um objeto, como uma televisão, uma geladeira ou um eletrodoméstico que ainda está funcionando, e chamam a nossa companhia para retirar o material e fazer o descarte adequado.
Para onde vai o lixo que vocês recolhem: para o lixão, aterro sanitário ou centro de reciclagem?
Na minha companhia, a gente trabalha muito com centros de reciclagem. Nós separamos os materiais por alumínio, papel, plástico, vidro e orgânico e fazemos o descarte adequado dos resíduos. Todos os dias, retiramos muitas toneladas de lixo das ruas.
Qual é a melhor parte do seu trabalho?
A melhor parte é saber que o carioca está feliz porque as nossas praias estão sendo limpas e o Rio de Janeiro continua lindo (risos). A limpeza ajuda o meio ambiente e evita doenças, deslizamentos de terra e enchentes. É muito gratificante saber que estamos contribuindo para prevenir essas coisas.
Você sofre preconceito por causa da sua profissão?
Eu trabalho como gari há dez anos e nunca sofri preconceito. A população do Rio gosta muito da gente e valoriza o nosso serviço. Nós fazemos um trabalho bom e honesto. Quando perguntam qual é a minha profissão, eu respondo com o maior orgulho.
O que você tem a dizer às pessoas que não descartam corretamente o lixo?
Eu gostaria que elas tivessem um pouco mais de educação (risos) e se lembrassem de que não vivem sozinhas no mundo. Nós precisamos da contribuição delas. Você pode ajudar um gari jogando o lixo no lugar certo e orientando um amigo quando perceber que ele está descartando algo no local errado. Explique que os garis têm muito serviço para fazer e que aquele lixo jogado no lugar errado só vai dar mais trabalho para o profissional. A limpeza urbana é de extrema importância para a população. Muitas vezes, o gari realiza um trabalho silencioso, as pessoas não percebem que ele está ali. Mas acho que é legal conhecer o profissional que limpa a sua rua. Tem várias crianças que passam por mim e conversam comigo, me convidam para tomar café na casa delas… A gente se sente muito querido. Se eu não fosse gari, não teria esse contato gratificante com as pessoas. Eu amo trabalhar nessa profissão.
GLOSSÁRIO
LIXÃO: local a céu aberto onde o lixo é descartado de forma inadequada, o que pode trazer prejuízos para o meio ambiente e a saúde da população.
ATERRO SANITÁRIO: recebe itens que não podem ser reciclados, como fraldas e papel higiênico usado. O descarte é feito da forma adequada, ou seja, não faz mal para a saúde da população e o meio ambiente.
CENTRO DE RECICLAGEM: espaço em que um material que foi descartado é transformado em um novo item. Essa prática é benéfica para a saúde da população e o meio ambiente.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 175 do jornal Joca.
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