Palavras chave: desmatamento, Gases do Efeito Estufa, fotossíntese
Autores
Paul Behrens, Zhongxiao Sun, Laura Scherer, Arnold Tukker, Seth A. Spawn-Lee, Martin Bruckner e Holly Gibbs
Jovens revisores
Edna e Evan
Cientistas ao redor do mundo estudam como a comida que consumimos impacta o planeta. A demanda por produtos de origem animal, especialmente carne e leite, gera muitas emissões que esquentam a Terra. Em países ricos, pessoas frequentemente ingerem mais alimentos de origem animal do que o necessário, o que também pode ser ruim para a saúde. Então, comer mais vegetais pode reduzir as mudanças climáticas ao mesmo tempo que torna os seres humanos mais saudáveis. Consumir mais vegetais também pouparia enormes áreas de terra, o que é outro benefício para o clima. Isso ocorre porque de 75% a 80% de todas as terras agrícolas do mundo são usadas para desenvolver produtos de origem animal. Se consumíssemos mais plantas, poderíamos devolver essa terra à natureza ou criar parques naturais com árvores que retirariam os Gases de Efeito Estufa da atmosfera. Mais terras naturais também significaria que mais plantas e animais poderiam construir a “casa” deles nesses parques e os humanos teriam mais lugares para brincar e explorar.
Consumir mais plantas e menos carne é melhor para o planeta. Isso porque a criação de animais para consumo libera até cem vezes mais Gases do Efeito Estufa* na atmosfera do que as plantas em crescimento (Figura 1). Existem três maneiras principais pelas quais a produção de alimentos de origem animal emite mais GEEs. Em primeiro lugar, alguns animais, como as vacas, produzem o GEE metano (CH3OH) quando digerem alimentos, e este gás é ainda mais potente do que o dióxido de carbono (CO2) na retenção de calor na Terra. Em segundo lugar, temos de cultivar muitos alimentos para manter os animais, mas não obtemos a mesma quantidade de alimentos na forma de produtos de origem animal. Isso porque, quando os animais crescem, utilizam muita energia apenas para se manter vivos, como respirar ou digerir alimentos. Em terceiro lugar, os animais e os alimentos que comem ocupam muito espaço, então as pessoas derrubam florestas para produzir mais terras agrícolas — isso se chama desmatamento*. Porém as árvores e o solo embaixo delas “seguram” muitos GEEs e estes são liberados quando as árvores são cortadas. Ao escolher mais alimentos à base de plantas, podemos ajudar a reduzir a liberação de gases nocivos e evitar que mais árvores sejam derrubadas.
Outros benefícios interessantes de consumir mais vegetais é que precisaremos de menos terra para cultivar alimentos para os animais, bem como menos área para mantê-los. A terra extra que não é utilizada para agricultura pode ser restaurada ao seu estado natural, com árvores e outras plantas (Figura 2). Esse processo é chamado de revegetação*. Árvores e plantas são superúteis para o meio ambiente porque absorvem dióxido de carbono (CO2) do ar durante a fotossíntese*, processo em que captam luz solar, água e CO2 para produzir energia e crescer. O CO2 é um dos GEEs que causam as alterações climáticas, por isso, quando as árvores e outras plantas o absorvem, ajudam a manter o equilíbrio da atmosfera do planeta. Ao restaurar a terra ao seu estado natural, podemos ter mais árvores e plantas trabalhando em conjunto para remover o CO2 do ar, o que é excelente para a Terra.
Os cientistas criaram uma dieta especial, chamada dieta de saúde planetária EAT-Lancet [2]. Ela é saudável para nós e o planeta. As pessoas que seguem essa dieta são aconselhadas a comer mais alimentos como feijão e lentilha, além de nozes, e muito menos carne e queijo. Nós nos perguntamos o que aconteceria se indivíduos que vivem em países ricos, como Estados Unidos e nações europeias, seguissem essa dieta, por isso fizemos pesquisas para descobrir. Constatamos que, se todos os habitantes desses países fizessem a dieta de saúde planetária EAT-Lancet, poderíamos reduzir imediatamente as emissões de GEEs gerados pelos alimentos que comemos em impressionantes 61% [3]. Isso ocorre porque a dieta evita muitos alimentos de origem animal, que liberam muitos GEEs na atmosfera. A liberação de menos GEEs é o primeiro benefício climático importante de consumir mais plantas.
Em seguida, analisamos o aspecto da economia de terra ao seguir uma dieta à base de vegetais. Como a criação de animais ocupa muito espaço, a mudança para o consumo de plantas pouparia muitas terras, que poderiam voltar ao seu estado natural. Isso significa que poderíamos plantar mais árvores e outras plantas que ajudam a absorver mais CO2 do ar. Este é o segundo benefício climático resultante do consumo de mais plantas em vez de produtos de origem animal. A revegetação pode retirar uma enorme quantidade CO2 da atmosfera. Se todos nos países ricos optassem pela dieta EAT-Lancet, estimamos que quase cem bilhões de toneladas de emissões poderiam ser extraídas do ar a longo prazo. Isso equivale a algo em torno de 15 anos de GEEs produzidos atualmente em todo o mundo pela agricultura. Iríamos nos beneficiar mais a curto prazo — no decorrer de cerca de 20 anos – uma vez que as plantas crescem rapidamente no início e necessitam de muito CO2 da atmosfera, mas continuaríamos a nos beneficiar por mais de cem anos em muitos casos.
Portanto, mudar para uma dieta à base de vegetais nos proporciona um duplo benefício climático. O primeiro advém da redução das emissões de GEEs — quando ingerimos mais alimentos vegetais, menos GEEs são produzidos pela agricultura, o que é bom para o planeta. O segundo benefício vem do carbono armazenado na natureza pela revegetação, e isso também é bom para a Terra.
Existem muitos outros benefícios ambientais de escolher uma dieta baseada em vegetais. Quando optamos por comer mais alimentos à base de plantas e liberar terras que seriam utilizadas para agricultura, isso não é apenas favorável para o clima, como também é fantástico para a vida animal selvagem e as pessoas. Ao restaurar a terra ao seu estado natural com árvores, flores e gramíneas, podemos criar um lar seguro e acolhedor para muitos animais, como pássaros e insetos. As árvores fornecem lares aconchegantes para os pássaros construírem ninhos, e as flores atraem abelhas e borboletas coloridas. Quanto mais plantamos, mais diversificada e interessante se torna a vida animal selvagem!
Quando restauramos a terra ao seu estado natural, criamos lugares incríveis, que as pessoas podem explorar e nos quais se divertir. Isso é excelente para a saúde humana. Respirar ar puro entre as árvores nos faz sentir felizes e relaxados. Quando passamos algum tempo ao ar livre, a natureza nos dá o dom especial de nos sentir saudáveis e fortes.
Agora você sabe que comer mais alimentos à base de plantas nos proporciona um duplo benefício climático: reduz os GEEs produzidos pela agricultura e ajuda o planeta ao liberar terra para que mais árvores e outras plantas cresçam e absorvam CO2. Também podemos criar lares para a vida selvagem, explorar o parque de diversões da própria natureza e nos manter saudáveis. Todos podem desempenhar um papel na proteção do nosso planeta comendo menos produtos de origem animal e mais plantas. Lembre-se: cada pequeno passo conta e, juntos, podemos fazer uma grande diferença. Também podemos encorajar os nossos amigos, familiares e comunidades a participar. Ao fazê-lo, aumentamos a conscientização sobre a importância de consumir mais alimentos à base de vegetais e os impactos positivos que isso pode ter no clima terrestre.
Gases do Efeito Estufa (GEEs): ↑ Qualquer gás que aumenta a temperatura do planeta quando está na atmosfera.
Desmatamento: ↑ Quando grandes áreas de floresta são destruídas e as árvores, cortadas.
Revegetação: ↑ Ocorre quando áreas que foram desmatadas de plantas naturais são replantadas pelo homem ou pela natureza.
Fotossíntese: ↑ Processo que as plantas usam para permanecer vivas. Elas usam a energia da luz solar para transformar o dióxido de carbono (CO2) em alimento para si próprias.
Antes de iniciar o artigo, o autor utilizou tecnologias assistidas por IA para colaborar com a exploração da terminologia apropriada à idade. Nenhum texto gerado pela ferramenta aparece no artigo.
Os autores declaram que a pesquisa foi realizada na ausência de quaisquer relações comerciais ou financeiras que pudessem ser interpretadas como potencial conflito de interesses.
[1] ↑ Poore, J., e Nemecek, T. 2018. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science 992:987–992. doi: 10.1126/science.aaq0216.
[2] ↑ Willett, W., Rockström, J., Loken, B., Springmann, M., Lang, T., Vermeulen, S. et al. 2019. Food in the Anthropocene: the EAT-Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems. Lancet 393, 447–492. doi: 10.1016/S0140-6736(18)31788-4.
[3] ↑ Sun, Z., Scherer, L., Tukker, A., Spawn-Lee, S. A., Bruckner, M., Gibbs, H., et al. 2022. Dietary change in high-income nations alone can lead to substantial double climate dividend. Nature Food. 3:29–37 doi: 10.1038/s43016-021-00431-5.
Behrens P, Sun Z, Scherer L, Tukker A, Spawn-Lee SA, Bruckner M e Gibbs H (2024) The Double Benefit of Eating Fewer Animal Products. Front. Young Minds. 12:1333921. doi: 10.3389/frym.2024.1333921.
Blessing Nyamasoka-Magonziwa e Mark Zwart.
Enviado: 6 de novembro de 2023; aceito: 23 de abril de 2024; publicado on-line: 13 de maio de 2024.
Copyright © 2024 Behrens, Sun, Scherer, Tukker, Spawn-Lee, Bruckner e Gibbs.
Paul Behrens
Paul Behrens é um cientista ambiental do Reino Unido. Ele estudou física e, em seguida, energia eólica, após concluir a escola. Seu trabalho atual é sobre alimentos, energia e mudanças do clima. Ele escreveu um livro para explorar como as mudanças climáticas podem alterar o mundo neste século. Ele não viaja de avião nem come alimentos de origem animal a fim de diminuir seu impacto nas mudanças climáticas e na natureza. *p.a.behrens@cml.leidenuniv.nl
Zhongxiao Sun
Zhongxiao Sun é cientista ambiental. Ele é chinês e atualmente trabalha na China Agricultural University. O trabalho de Sun é focado principalmente no desenvolvimento sustentável dos sistemas alimentares. Ele tenta encontrar padrões de alimentação que possam beneficiar a saúde humana e planetária.
Laura Scherer
Laura Scherer é cientista ambiental. Ela é alemã e mora na Holanda, onde trabalha na Leiden University. Ela se importa muito com a natureza e o bem-estar dos animais. Em sua pesquisa, ela estuda como as atividades humanas afetam ambos e tenta identificar maneiras de melhorar a situação. Ela não come produtos de origem animal, já que eles podem prejudicar a natureza e os bichos.
Arnold Tukker
Arnold Tukker é da Holanda. Após terminar o ensino médio, ele cursou química. Depois, ele aprendeu muito mais estudando sobre o meio ambiente em um grande instituto de pesquisa (TNO). Hoje ele trabalha como professor na Leiden University. Tukker quer entender como todas as pessoas no mundo podem viver bem — sem poluir a Terra.
Seth A. Spawn-Lee
Seth A. Spawn-Lee é um geógrafo que estuda como fazendas, florestas e pastos influenciam nosso clima. Ele mapeia em que partes do mundo as plantas estão armazenando e absorvendo carbono e como esses padrões são alterados pelas pessoas. Atualmente, é pesquisador da organização The Nature Conservancy.
Martin Bruckner
Martin Bruckner é um cientista ambiental que tenta compreender melhor o impacto do nosso consumo no clima global e nos ecossistemas distantes. Hoje ele é pesquisador sênior na universidade ETH Zurich, na Suíça.
Holly Gibbs
Holly Gibbs é uma cientista de sistemas terrestres que trabalha para entender como e por que as pessoas usam a terra ao redor do mundo e o que isso significa para o meio ambiente. Ela é professora na Universidade de Wisconsin-Madison e atualmente está focada em encontrar soluções para o desmatamento na Amazônia e aprender como os proprietários de terra podem apoiar melhor a biodiversidade, especialmente nos Estados Unidos.
Edna – 10 anos
Edna é uma menina inteligente e curiosa de 10 anos. Sua curiosidade a leva a explorar as maravilhas da natureza, e ela constantemente pensa em maneiras de tornar o mundo um lugar melhor. Edna também é apaixonada por ajudar os outros. Sua personalidade comunicativa traz alegria a todos que encontra. Além da paixão pela culinária, ela toca piano e gosta de ginástica.
Evan – 10 anos
Evan é apaixonado por ciência, desde codificar e projetar robôs e aprender sobre planetas, vulcões e bandeiras, até entender como os vírus funcionam (graças ao coronavírus) e descobrir sobre diferentes animais e seus habitats. Evan também é um artista talentoso e adora desenhar e projetar robôs quando não está na escola. Ele adora jogar futebol com os colegas, os irmãos e o pai, gosta dos bolos caseiros da mãe e sua fruta favorita é a banana.
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Texto traduzido do site
https://kids.frontiersin.org/articles/10.3389/frym.2024.1333921
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