Os participantes da tradicional festa junina de Belém, no Pará, brincam, tocam e dançam ritmos típicos.
por Mariana Labbate e Martina Medina
Uma das principais comemorações juninas no Norte do país é o Arraial do Pavulagem em Belém, no Pará. A principal parte da festa é o “Arrastão do Pavulagem”, um desfile que passa pelas ruas da cidade.
Nele, crianças e adultos dançam, cantam e alguns participantes saem usando pernas de pau; são os chamados “pernaltas”. Todos seguem o Boi Pavulagem até chegarem ao centro da cidade, onde acontece uma cerimônia de encerramento e um show da banda tradicional que também se chama “Arraial do Pavulagem”.
O principal personagem é o boi-bumbá, típico do folclore da região, que no caso é chamado de Boi Pavulagem.
O pernaltas mirins do Pavulagem
Os irmãos Kenzo Thiego A., 11 anos, e Kayra Kawany A., 8 anos, são duas das seis crianças que saem como pernaltas no Arrastão. Eles dançam quadrilha e carimbó, um ritmo típico do Pará, e cumprimentam o público – tudo isso em cima de pernas de pau.
“Eu sinto muita alegria conforme aumentam os centímetros da perna. Vou ficando cada vez mais alto e superando o medo de cair”, conta Kenzo. Este foi o seu quarto ano na festa. Kenzo começou usando pernas de 50 centímetros de altura e hoje já sai com as de 70 centímetros para celebrar a festa junina. “Tentei a de um metro, mas me deu dor no quadril. Mas um dia ainda vou conseguir usar!”, promete.
Já Kayra saiu pela primeira vez neste ano encarando pernas de 60 centímetros. “Deu um pouquinho de medo, mas eu ensaiei bastante e deu tudo certo. Foi muito legal”, diz.
É preciso ensaiar por 15 dias para se manter em pé até o final do desfile. Mas nem sempre dá para manter o ritmo durante todo o cortejo. “No ano passado, quando estava subindo a Presidente Vargas, minha perna quebrou – a de pau, não a de verdade!”, conta Kenzo. “Eu tive que me apoiar em alguém para tirar minha perna e continuar caminhando sem ela. Nesse arrastão já consegui andar normal com a perna de pau até o final.”
O Arrastão do Pavulagem
O Arrastão leva milhares de pessoas cantando e dançando pelas ruas de Belém. Algumas pessoas se vestem de boi bumbá, mas a maioria usa uma camisa azul, calça branca (no caso do Kenzo e da Kayra, que cubra as pernas de pau) e um chapéu de fitas com um dos principais símbolos do Pavulagem, uma estrela azul dentro de um círculo amarelo.
Os participantes também se maquiam, pintando o rosto de branco e desenhando luas e estrelas nele.
A festa também tem várias brincadeiras, como o pau de sebo e o quebra pote, um jogo onde as crianças são vendadas e tentam quebrar potes que podem ter doces, terra, água e por aí vai. “Quebrei um pote e tinha pipoca. Eu fiquei com vontade, mas como estava vendado infelizmente não deu para comer. As crianças que estavam de fora correram para pegar e comeram antes”, relata Kenzo.
Estão presente também comidas tradicionais de festa junina, como o milho e o bolo de macaxeira. Mas Kayra e Kenzo contam que gostam mesmo é de tomar tacacá e comer maniçoba, pratos típicos do Pará que também são servidos nos dias juninos.
A história do Boi Pavulagem
Desde 1987, a cidade de Belém do Pará comemora a chegada de um presente de São João para alegrar a cidade: um boi azul, o Boi Pavulagem.
De acordo com Luciana Lobo, de 45 anos, tia de Kayra e Kenzo, a festa começou pequena, com um grupo de amigos que faziam um cortejo com um boi chamado Pavulagem. Hoje, a festa cresceu e já virou domínio público.
Luciana, que participa do Arrastão há 15 anos – cinco deles como pernalta -, contou também que já tocou na percussão, mas não se adaptou e resolveu se desafiar subindo nas pernas de pau. Ela arrastou a família inteira para o Pavulagem, e disse que, em maio, todos ficam ansiosos pela festança. Kenzo curte ter os parentes reunidos nas alturas. “Quase toda a minha família sai como pernalta. É legal compartilhar esse momento em família”, diz.
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