Débora é uma das dez finalistas do prêmio. Foto: Divulgação

Uma brasileira está entre os dez finalistas do Global Teacher Prize 2019, a maior premiação para professores do mundo. Ao lado de profissionais de várias partes do planeta, Débora Garofalo, de São Paulo, concorre ao prêmio que dará um milhão de dólares (mais ou menos, 3,8 milhões de reais) ao vencedor. O resultado deve ser anunciado em 24 de março, em uma cerimônia em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Débora foi indicada pelo projeto Robótica Com Sucata e as aulas especiais que dá na Escola Municipal de Ensino Fundamental Almirante Ary Parreiras, na Cidade Leonor, periferia de São Paulo.

Veja abaixo a entrevista que ela deu ao Joca:

Você é a primeira brasileira a chegar aos finalistas do Global Teacher Prize. Como é a sensação de ter ido tão longe?
É uma alegria ser finalista do Global. Rompemos barreiras e quebramos vários tabus. É um trabalho com a possibilidade de replicação, não só no Brasil, como no mundo, para que outros alunos, de outras realidades, possam vivenciar essa aprendizagem criativa.

Como surgiu a ideia de realizar o projeto Robótica Com Sucata?
O projeto Robótica Com Sucata nasceu da vontade de transformar a vida de crianças e jovens da periferia da zona sul da cidade de São Paulo. A premissa era olhar para a comunidade e tratar a questão do lixo. Os alunos traziam material reciclável para a sala de aula e, a partir disso, assimilavam conhecimentos de várias disciplinas (português, geografia, matemática, artes, entre outras) e usavam o aprendizado para criar protótipos com sucata.

Alunos desenvolveram projetos de robótica na Escola Municipal de Ensino Fundamental Almirante Ary Parreiras (SP). Foto: Divulgação

Os alunos que participam do projeto têm que idade? Quantos já foram impactados?
O trabalho nasceu com a proposta de ser aplicado para a escola inteira, ou seja, para estudantes de 6 anos a 14 anos. Já foram impactados 2 mil alunos desde que o projeto começou, há três anos.

O projeto consistia em transformar itens descartados em novos objetos. O que foi criado? Cada criança escolhia o que seria montado ou a decisão era tomada em grupo?
O trabalho começa com a coleta do lixo na comunidade. Depois, nós pesamos esse material, limpamos dentro da sala de aula, fazemos pesquisas (para ver o que será construído), transformamos o lixo em protótipos e fazemos uma feira aberta à comunidade para que todos possam ver o que os alunos construíram.

Que objetos descartados vocês usaram ao longo do projeto? Você sabe a quantidade de resíduos que já foi utilizada?
Eu respeitei o desejo dos alunos. No começo, eles queriam fazer brinquedos próximos à sua realidade, como máquinas de refrigerante, carrinhos, robôs, máquinas de sorvete e jogos. Mas, depois, eles começaram a criar protótipos envolvendo a questão da comunidade, dos problemas reais da vida. “A avenida X não tem semáforo, vamos construir um semáforo” ou “o córrego pode alagar, vamos construir uma boia que possa alertar a comunidade em dia de chuva”. Os materiais encontrados foram diversos, desde televisão, notebooks, impressoras, ventiladores e torradeiras até liquidificadores… Todos nós desmontamos os objetos, pesamos e levamos para a sala, aproveitando ao máximo o que conseguíamos. O que não era possível utilizar descartávamos de forma sustentável. Temos parceiros de reciclagem que levam esses materiais para o local adequado.

Estudantes produzem jogo utilizando materiais recicláveis. Foto: Divulgação

Uma vez finalizados, os objetos produzidos podiam ser levados para fora da escola? Se sim, você sabe aonde eles foram?
Os alunos têm total liberdade para levar os protótipos embora. O único combinado que nós temos é que, se eles não quiserem mais aquele protótipo, devem desmontar as peças e levar de volta para a escola, para que nós possamos utilizar na construção de outro protótipo. Os estudantes aprendem robótica de forma sustentável.

Na sua opinião, que impactos essa ação teve na vida dos alunos e da comunidade?
O trabalho apresentou vários benefícios. A primeira foi a mudança no comportamento dos mais indisciplinados. Eles começaram a ir para o colégio com vontade de aprender. Além disso, a comunidade passou a ficar mais consciente em relação ao descarte dos materiais. Nós retiramos, após três anos de trabalho, mais de uma tonelada de materiais recicláveis, incluindo resíduos eletrônicos. A escola como um todo também ganhou na questão da evasão escolar (reduzimos o índice em 95%), na diminuição do trabalho infantil (em 93%) e no aumento de 4.2 para 5.2 na nota do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Para mim, a maior conquista foi na autoestima dos alunos. Eles entenderam que não era aquele lugar que determinaria o que eles poderiam ser na vida — são eles que determinam o que podem ser.

*Esta entrevista é um complemento à reportagem publicada no Joca 127.

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Comentários (7)

  • North Cache Middle School

    5 anos atrás

    i'm american but ok

  • EMANUELLE NUNES SAMPAIO

    5 anos atrás

    que orgulho,VAI BRASIL!!

  • EMANUELLE NUNES SAMPAIO

    5 anos atrás

    bra,sil!!!!!!!!!!!

  • Daniel Henrique Botelho Teixeira

    5 anos atrás

    orgulhoso pela professora, mais reconhecimento pro nosso país

  • sammuel dalla vecchia santos

    5 anos atrás

    Parabéns por estar entre os 10 melhores professores do mundo e pelo ótimo trabalho que desenvolve ????.Gostei muitoooooo!

  • LAVÍNIA ALVES SANTOS

    5 anos atrás

    na quarta pergunta a professora não respondeu todas as perguntas gostaria de saber qual a resposta dela...

  • EMEF Prof. Laerte José dos Santos

    5 anos atrás

    ...quanto orgulho essa professora, seus alunos e esse trabalho maravilhoso nos causa..Do BRASIL PARA Dubai e de DUBAI PARA O MUNDO. Parabéns!!! Meu respeito e admiração. prof Telma

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