As barragens de rejeito construídas com a técnica de alteamento a montante (veja explicação no box), como as que romperam em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, estão com os dias contados. As mineradoras deverão retirar os rejeitos dessas barragens e integrá-las ao meio ambiente até o dia 15 agosto de 2021. O prazo foi
As barragens de rejeito construídas com a técnica de alteamento a montante (veja explicação no box), como as que romperam em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, estão com os dias contados. As mineradoras deverão retirar os rejeitos dessas barragens e integrá-las ao meio ambiente até o dia 15 agosto de 2021.
O prazo foi determinado pela Agência Nacional de Mineração (ANM) em 18 de fevereiro, menos de um mês depois da tragédia de Brumadinho, que deixou 171 mortos e 139 desaparecidos. O objetivo é acabar com um modelo de barragem considerado inseguro.
“Os acidentes colocam em xeque a eficácia desse método construtivo e a estabilidade real das barragens alteadas a montante”, declarou a ANM, citando o histórico de três rompimentos: 2014, em Itabirito; 2015, em Mariana; e, o mais recente, no início de 2019, em Brumadinho – todos em Minas Gerais.
Outras mudanças
No dia 11 de fevereiro, outras regras para evitar novas tragédias já haviam sido anunciadas pela agência. As mineradoras agora serão obrigadas, por exemplo, a fazer inspeções diárias em barragens a montante e mandar as informações para o governo. Antes, o envio de relatórios sobre a situação das barragens acontecia a cada 15 dias.
“A barragem é um ser vivo: os rejeitos que estão dentro dela mudam com o tempo e todo dia é preciso ver se ela está bem. Como nós, se não recebe cuidados, as chances de ela ficar doente aumentam – e, conforme fica mais velha, também”, compara Hernani Mota de Lima, professor de engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
O que são barragens com alteamento a montante?
A estrutura desse tipo de barragem cresce em forma de degraus, com camadas de rejeitos se sobrepondo umas às outras. É como se fosse um depósito de lixo da mineradora, que usa água para limpar os minérios e depois dispensa a lama resultante desse processo. Veja:
Comum no Brasil na década de 1970, esse tipo de barragem é o método mais simples e barato de guardar rejeitos da mineração, e também é considerado o mais ultrapassado e inseguro. Como é composto de muito líquido, o rejeito é mais instável, tem volume maior e sua dispersão é mais rápida em caso de rompimento.
Atualmente, há 84 barragens no modelo a montante, sendo que 43 representam alto risco de rompimento.
Conheça tipos de barragens considerados mais seguros:
Jusante: a barragem cresce em forma de paredão e os resíduos ficam ao lado, melhorando a estabilidade da estrutura.
Etapa única: um enorme dique (construção que impede a passagem de determinado material) é feito logo no início e os rejeitos são dispostos ao lado, o que dá grande segurança.
Linha de centro: é construída em forma de degraus que ficam exatamente um sobre o outro, diminuindo a instabilidade.
A mineração a seco separa os minérios das impurezas sem precisar de água. Em vez disso, são usadas peneiras e a própria umidade do minério. O método não cria rejeitos, assim, não precisa de barragens. Por isso, é considerado muito seguro por especialistas.
Como acabar com uma barragem?
Há dois métodos para fazer isso:
Esvaziamento
– Tubos passam os resíduos para caminhões, que levam os rejeitos a um centro de tratamento, no qual o material é separado entre o que pode ser reaproveitado, água e resíduo sólido.
– É possível recuperar o solo da barragem e plantar árvores.
– Desvantagens: o processo pode deixar a barragem instável e é demorado. Para Hernani Mota de Lima, professor da Ufop, não há empresas nem equipamentos suficientes para usar o método no prazo estabelecido pelo governo.
Aterro
– A barragem é deixada como está e, sobre ela, coloca-se uma camada de terra fértil, em que árvores são plantadas.
– A mata ajuda a reter água, diminuindo o líquido da lama da barragem. “Isso acontece em um período de dez anos”, diz Paulo Lanzarotto, professor de engenharia da Faculdade Armando Alvares Penteado (Faap).
– Como a barragem segue existindo, as chances de romper continuam. “É necessário manter a fiscalização para saber como a barragem está se comportando sob a floresta”, opina Bruno Milanez, professor de engenharia na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Fontes: Agência Brasil, ANM, BBC, Folha de S.Paulo, G1 e R7.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 126 do jornal Joca.
eu adorei saber mais sobre as barragens e como elas funcionam
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