Imagem ilustrativa da vacina contra a covid-19. Foto: Javier Zayas Photography/Getty Images

Após cinco horas de reunião, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em 17 de janeiro, o uso emergencial no Brasil das vacinas CoronaVac (produzida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo) e da Covishield (desenvolvida pelo Serum Institute of India com a Universidade de Oxford, da Inglaterra, a farmacêutica sueca AstraZeneca e a Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, do Rio de Janeiro). Esses são os primeiros imunizantes contra a covid-19 autorizados para aplicação por aqui.

A reunião começou com uma apresentação feita pelo gerente de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, que mostrou os resultados de análises feitas por especialistas da agência para avaliar se as duas vacinas eram seguras e eficazes (entenda a eficácia no box). Ao fim, os cinco membros da diretoria da agência aprovaram o uso de ambas as vacinas.

Na reunião, os membros da Anvisa ressaltaram que os dois imunizantes ainda precisam apresentar mais dados para que, no futuro, possam obter o registro definitivo (saiba mais ao lado, nas perguntas e respostas). No caso da CoronaVac, os especialistas ainda precisam saber por quanto tempo ela protege uma pessoa, entre outras informações. Em relação à Covishield, é preciso que os fabricantes apresentem provas que mostrem quantas doses do imunizante, de fato, são necessárias e qual deve ser o intervalo entre elas.

Mesmo com informações faltando, a Anvisa concordou que as vacinas são seguras e eficazes e precisam começar a ser aplicadas na população, diante do aumento no número de casos de covid-19 no Brasil e do fato de não existir um remédio específico para tratar a doença.

Durante o uso emergencial, os imunizantes vão continuar a ser testados para que mais dados sejam obtidos.

Início da vacinação
São Paulo foi o primeiro estado a começar. Em 17 de janeiro, profissionais da saúde e indígenas receberam a dose inicial da CoronaVac. A primeira foi a enfermeira Mônica Calazans, que tem atuado no combate à doença desde que a pandemia chegou ao Brasil. “Falo com segurança e propriedade: não tenham medo. É a grande chance que a gente tem de salvar mais vidas. Vamos nos vacinar”, disse ela na ocasião.

Já em 22 de janeiro, chegaram ao Brasil carregamentos da vacina Covishield, vindas da Índia. Os imunizantes foram transportados de avião até o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e, em seguida, levados para a Fiocruz, no Rio de Janeiro. Na tarde do dia 23, a fundação realizou uma cerimônia de liberação das doses. No evento, médicos da Fiocruz foram os primeiros a receber a Covishield no Brasil. “É um momento muito emocionante. A gente entende que é um ponto crucial de todo esse nosso processo de enfrentamento [da pandemia]”, disse o médico Estevão Portela, o primeiro a ser vacinado.

Tanto doses da CoronaVac como da Covishield foram entregues ao Ministério da Saúde, que distribuiu as vacinas para o Distrito Federal e os 26 estados brasileiros — estes irão organizar a vacinação em seus territórios.

A eficácia das vacinas

Os estudos que descobrem a eficácia das vacinas separam os resultados em cenários de casos leves, moderados e graves. Isso é importante, pois uma vacina pode ser muito eficaz para proteger contra casos graves, mas pouco eficaz contra casos leves, ou vice-versa. Nos casos das vacinas CoronaVac e Covishield, os índices mínimos de proteção em todos os cenários foram alcançados. Veja mais detalhes do que se sabe até o momento (os estudos seguem em andamento):

Covishield

– A primeira dose dá proteção de 100% contra casos graves e hospitalizações e 70% contra casos moderados e leves. 

– Com duas doses, a proteção contra casos moderados e leves sobe para até 80%, enquanto a proteção contra casos de hospitalização e graves permanece em 100%. 

CoronaVac (duas doses)

– Proteção de 100% contra casos graves e moderados. 

– Proteção de 78% para casos leves que precisam de cuidados médicos.

– Proteção de 50% para casos muito leves, que não precisam de intervenção médica.

Perguntas e respostas:

O que é uso emergencial?

É quando uma vacina é aprovada para uso, mas não de forma definitiva. Neste caso, as aplicações devem seguir algumas regras: apenas o sistema público de saúde pode aplicar as doses (clínicas e hospitais particulares estão proibidos de fazer isso); não é permitido vacinar toda a população, apenas uma parte dela; as vacinas só podem ser aplicadas durante determinado período.

E o registro definitivo?

Ocorre quando todos os estudos e análises sobre o imunizante terminam. Então, a vacina pode ser usada em toda a população, em qualquer momento. Além disso, clínicas e hospitais particulares passam a aplicá-la. Exemplos de imunizantes com registro definitivo no Brasil: vacina BCG (contra tuberculose) e contra febre amarela. 

Quem deve ser vacinado durante o uso emergencial?

Desde o dia 17, estão recebendo a vacina pessoas que têm mais chances de contrair o vírus (como profissionais de saúde) e do grupo de risco, ou seja, que correm mais riscos de ficar gravemente doentes — idosos e pessoas com doenças crônicas, por exemplo. Conheça as fases previstas pelo Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde (decisões de governos estaduais ou municipais podem alterar essa previsão):

• Fase 1 (atual)

Profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, cuidadores de idosos e funcionários de hospitais e estabelecimentos de saúde); pessoas com mais de 60 anos que vivam em instituições, como abrigos; indivíduos com mais de 75 anos; pessoas com deficiência que tenham mais de 18 anos e morem em residências inclusivas; indígenas que vivem em terras próprias e ribeirinhos (que moram nas margens dos rios). Como estes dois últimos grupos vivem isolados, eles acabam não desenvolvendo sistemas de defesa resistentes contra doenças. Por isso, correm mais riscos de ficar gravemente doentes.

• Fase 2

Pessoas de 60 a 74 anos. 

• Fase 3

Pessoas com doenças crônicas: diabetes, câncer, doenças do coração, entre outros. 

E os mais jovens?

Crianças e adolescentes, além de grávidas, pessoas imunossuprimidas (que têm problemas no sistema de defesa do organismo) e indivíduos entre 18 e 59 anos que não tenham doenças crônicas não serão vacinadas por enquanto. O plano é que esses grupos sejam imunizados futuramente, ainda sem previsão de início.

O que diz quem já tomou a vacina?

“Eu não trabalho em UTI [Unidade de Terapia Intensiva] de covid-19, e sim em uma área do Hospital das Clínicas com crianças que têm problemas no coração e estão acompanhadas dos familiares. Frequentemente aparecem uma criança positiva para o vírus e, não raramente, um acompanhante também. É positivo se proteger e proteger as pessoas com quem você tem contato — ao se vacinar, você protege também as outras pessoas. Mas há um lado realista, pois não podemos abrir mão de nada: não podemos aglomerar, tirar máscara nem deixar de fazer a higienização. Nada muda até existir uma vacinação massiva, de mais de 50% a 70% das pessoas vacinadas.” Antonio Augusto Lopes, professor de medicina (cardiologia) e bioestatística, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Recebeu a primeira dose da CoronaVac em 19 de janeiro 

“Faço doutorado no Hospital das Clínicas e estou entrando com um projeto novo, envolvendo covid-19, em que vou avaliar a resposta à vacina. Fui convocada para ser vacinada por ser aluna de projeto relacionado à doença. Receber a primeira dose foi gratificante. A gente que trabalha na área de pesquisa sabe como é difícil desenvolver um produto novo, ainda mais em tão pouco tempo. É gratificante saber que foi em parceria com um laboratório brasileiro, o Instituto Butantan, muito renomado na área de vacinas.” Juliana Ruiz, bióloga. Recebeu a primeira dose da CoronaVac em 20 de janeiro

Depoimentos de brasileiros vacinados no exterior

“Eu consegui tomar a vacina porque trabalho em um hospital. Não tive nenhuma reação particular, só uma dor média no braço no dia seguinte, mas meu colega de apartamento teve um pouco de febre. Aqui a vacinação começou dia 27 de dezembro e estamos usando a vacina da Pfizer, que depois de 21 dias é preciso tomar a segunda dose. Me senti bem privilegiado por tomar a vacina porque eu tenho 21 anos, então se tivesse que seguir o cronograma normal eu seria vacinado só em novembro ou dezembro, mas fui a primeira pessoa que eu conheço a receber a vacina. Mas por outro lado fico meio sentido, porque no Brasil eu sei que as coisas estão bem mais devagar e porque outros lugares do mundo não vão ter acesso a essa vacina tão cedo.” Gabriel de Rosa, 21 anos, de Forlì (Itália)

Gabriel de Rosa, 21 anos. Foto: Arquivo pessoal

“Aqui em Israel tem um programa de vacinação e eles acreditam que até março vão vacinar a população inteira, de 8 milhões de pessoas. Eu faço parte do grupo prioritário dos profissionais da área da saúde porque sou cirurgião-dentista. O esquema de vacinação daqui está sendo muito organizado, é com horário marcado. Me senti extremamente orgulhoso, porque como dentista preciso estar preparado porque não parei de trabalhar na pandemia.” Sérgio Liberman, de Raanana (Israel)

Correspondentes internacionais 

“A vacinação na minha cidade começou no dia 29 de dezembro e a prioridade é de acordo com o risco de exposição. Por exemplo: o primeiro grupo a ser vacinado foi o pessoal médico, depois, idosos com mais de 70 anos e, em seguida, pessoas entre 60 e 69 anos. Espero que, quando a gente for vacinado, tudo volte ao normal e a gente sinta liberdade depois de tanto tempo. Quando soube que a vacinação estava para começar, fiquei muito feliz porque a vacina ia nos dar a segurança de sair de casa e poder ver nossa família e amigos sem medo de pegar o vírus ou passar para os outros” Sophie T., 13 anos, de Buenos Aires (Argentina)

Sophie T., 13 anos. Foto: Arquivo pessoal

“Por aqui, médicos e todos aqueles que têm maior risco de infecção já estão começando a se vacinar. Fiquei aliviada quando soube que meu país havia comprado uma vacina, embora a vacina Sputnik V me dê desconfiança. Acho que, com a vacina, vamos poder fazer todas as coisas que ano passado não pudemos fazer por causa do coronavírus, por exemplo: ir para escola, sair para a rua, comer em um restaurante, etc.” Lourdes G., 11 anos, de Morón (Argentina)

Lourdes G., 11 anos. Foto: Arquivo pessoal

“Na minha cidade a vacinação começou em 15 de janeiro de 2021. Me senti bem e feliz quando soube que a vacinação ia começar porque vamos poder sair mais. Acho que o que vai mudar com a vacina é que ela vai salvar muita gente da covid-19.” Juan Ignacio G., 9 anos, de Morón (Argentina)

Juan Ignacio G., 9 anos. Foto: Arquivo pessoal

Fontes: Anvisa, CNN, Fiocruz, Folha de S. Paulo, G1, Ministério da Saúde e UOL.

Vacinação pelo mundo
No dia 8 de dezembro de 2020, o Reino Unido aplicou a primeira dose de uma vacina contra a covid-19 no Ocidente, tornando-se o primeiro país dessa região do mundo a começar a imunização em massa. Três dias antes, o governo da Rússia havia anunciado o início da imunização na capital, Moscou, com a vacina desenvolvida pelo próprio país.

Desde então, diversas nações iniciaram campanhas. Até o fechamento desta edição do Joca, de acordo com o site Our World in Data (ligado à Universidade de Oxford), os Estados Unidos e a China lideravam o ranking de quantidade de vacinas aplicadas. O Brasil estava na 38ª posição, com pouco mais de 28.543 aplicações. No mundo, até agora, o total é de 46,89 milhões de pessoas que receberam a vacina.

Classificação dos países que mais vacinaram (até 26 de janeiro)

PaísDoses
1) Estados Unidos15,7 milhões
2) China15 milhões
3) Reino Unido5,07 milhões
4) Israel2,94 milhões
5) Emirados Árabes Unidos2,16 milhões

Doses x tamanho da população

Outra forma usada pelo Our World in Data para fazer a classificação da vacinação considera a proporção entre a quantidade de doses aplicadas em relação ao tamanho da população do país. Neste caso, até o dia 26 de janeiro, estavam na liderança: Israel, com doses aplicadas em 33,9% das pessoas; Emirados Árabes Unidos, com 21,9%; Bahrein, 8,4%; Reino Unido, 7,5%; e EUA, 4,8%. Por esse método de contagem, o Brasil aplicou doses em menos de 0,1% da população.

*Esta matéria é uma versão estendida da reportagem publicada na edição 163 do Joca.

** Reportagem atualizada em 28 de janeiro de 2021, às 12h41.

Fontes: Agência Brasil, BBC, Butantan, Estadão, Estadão, Fiocruz G1, G1, Organização Mundial da Saúde, Our World in Data e UOL.

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