Livros com receitas de família produzidos após projeto na Escola Villare. Arquivo pessoal

Olhar para trás enquanto construímos a própria identidade pode ser revelador — principalmente quando quem vemos são os nossos antepassados. É a partir dessa ideia que muitas escolas trabalham o conceito da criação de árvores genealógicas com os alunos. Mais do que apenas esquematizar uma estrutura com o nome dos pais, avós, bisavós e outros, os estudantes aprendem como viviam as pessoas que vieram antes deles.

A Escola Villare, em São Caetano do Sul (SP), desenvolve o conceito de árvore genealógica com os alunos do 2º ano. Por meio de pesquisas e conversas com a família, os estudantes compreendem um pouco mais sobre como era a vida e rotina dos pais, avós e bisavós, entendendo também o contexto no qual a família estava inserida. 

“As crianças fazem a leitura de um livro paradidático chamado A Árvore da Família, da autora Maísa Zakzuk. O livro traz perguntas como: ‘Em que lugar do mundo a minha história começou?’ e ‘como viviam os nossos antepassados?’. Trabalhamos de maneira que as crianças se compreendam como sujeitos da história. Já fizemos livros, por exemplo, que continham receitas de famílias, relatos de avós e outros materiais”, conta Tatiana Lima, coordenadora pedagógica do ensino fundamental 1.

Conversa com a autora Maísa Zakzuk. Arquivo Pessoal

Os alunos também compreendem que fotos, diários, cadernos e anotações de familiares são documentos históricos que ajudam a contar o passado do mundo em sua respectiva época. No processo de conversa, pesquisa e busca, diversas curiosidades são descobertas com surpresa pelos estudantes. 

O que pensam os alunos?

‘Saber a história dos nossos antepassados é muito importante. Saber de onde vieram, como chegaram aqui.⁠Entender a nossa história faz a gente entender que ela não tem fim. A nossa história é feita de outras histórias.”, Alice S., 8 anos

“Foi legal descobrir a origem da minha família, tipo uma receita antiga, e assim saber mais da minha família. Me senti feliz porque eu amo minha família e eu amo saber sobre eles”, Cauã N., 8 anos

“Foi interessante que descobri histórias novas da minha famíia, e agora posso contar para novas pessoas. Descobri que minha tataravó foi da Lituânia. Na minha casa, temos uma toalha de mesa que ela fez com algodão que colheu. A importância disso é saber da história da minha família, de pessoas que vieram antes de mim.”, Maria Fernanda P., 8 anos

Conexão através da leitura

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Isabel Vieira, localizada na zona sul de São Paulo, a professora Lucimara, orientadora de sala de leitura desde 2018, também desenvolve um projeto que conecta os estudantes às suas próprias histórias de vida. Com turmas do 6° ao 9° do ensino fundamental, o trabalho gira em torno da construção de uma árvore genealógica, partindo da leitura de obras como a graphic novel (história em quadrinho) Jeremias – Alma., da Maurício de Sousa Produções (MSP). A proposta visa incentivar os alunos a investigarem suas ancestralidades por meio de conversas com familiares, resgatando memórias e fortalecendo o diálogo entre gerações.

O projeto nasceu da vontade de aprofundar o tema da ancestralidade com os estudantes, evidenciado na obra de Jefferson Costa e Rafael Calça, que provoca reflexões sobre identidade e pertencimento. A partir da leitura dos volumes Jeremias – Pele e Jeremias – Alma, os alunos são estimulados a buscar informações sobre seus antepassados, compreendendo também o papel da oralidade e das histórias familiares como fontes de conhecimento e construção de identidade. 

Além de incentivar a pesquisa familiar, o projeto também promove discussões sobre o apagamento histórico de povos negros e indígenas, trazendo referências como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Luiz Gama. Segundo a professora Lucimara, “quando o aluno começa a contar a própria história, ele cria um vínculo com o passado que amplia a escuta, o diálogo e o entendimento de quem ele é”.

Memórias apagadas

Já em Belo Horizonte (MG), alunos do 4º ano da Escola Balão Vermelho também investigam mais sobre suas origens. Assim como no Villare, eles estudam e pesquisam a trajetória dos antepassados após receber orientações e ver exposições em sala de aula sobre a importância de conhecer nosso próprio passado.

No projeto Quem Sou Eu? Quem Somos Nós?, além de conhecer mais sobre a própria família, os estudantes recebem convidados em classe — que podem ser familiares de outros alunos ou convidados da escola — para falar sobre sua trajetória de vida. Durante a conversa, tiram dúvidas e passam a compreender, a partir de um relato real, como as pessoas viviam em outra época, além de perceber impactos regionais e sociais na vida de cada indivíduo. Ao fim, os estudantes criam uma exposição com fotos e objetos que contam a história de cada família.

Exposição realizada após o projeto. Arquivo Pessoal

Para a professora Juliana Basílio, a iniciativa envolve mais do que a esquematização da árvore. “Nos últimos anos, percebemos que criar o esquema da árvore pode ser bastante complexo para algumas famílias. Quando pensamos, por exemplo, em descendentes de povos originários e africanos no Brasil, sabemos que muito da memória dessas pessoas foi completamente apagada. Como, então, montar uma árvore com dados de anos atrás? Pensando nisso, vamos agora trabalhar esse tema também com visitações a aldeias indígenas, por exemplo, e aulas que reforcem essa temática com os alunos”, explica ela.

Depois das entrevistas coletivas, cada estudante escolhe uma pessoa para homenagear e escreve sua biografia; juntos, os textos dos alunos se tornam livros.

O que pensam os alunos?

“Foi muito especial descobrir mais sobre a história da minha família e de onde os meus bisavós vieram. Eu me senti feliz e aprendi muitas coisas.
Eu gostei de saber mais sobre a história da minha família porque é também a minha história.”, Bárbara A. T. , 10 anos

“Foi muito bom saber sobre os meus bisavós e tataravós italianos. Entendi por que eles decidiram sair de lá: tinha terremotos, eles participavam da guerra e havia pouca oportunidade de trabalho. Eu acho importante entender desde as raízes, pois saber tudo que eles passaram até chegar à vida que tenho hoje me faz sentir orgulhosa por eles e feliz por mim”, conta Letícia F., 10 anos.

“Eu achei muito legal e interessante saber a história da minha família, fiquei muito curioso e empolgado durante o processo dessa descoberta. Eu fiquei feliz de conhecer mais sobre a vida dos meus familiares, de onde vieram, das dificuldades pra chegarem no Brasil e orgulhoso com tantas experiências que eles viveram. A importância de entendermos nossa própria história e ancestralidade é conhecermos mais sobre a nossa origem e isso ajuda a gente a se conhecer melhor.”, Bernardo A. T. , 11 anos

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