Pesquisa revela que brigas, roubos, furtos e cyberbullying são o cotidiano dos estudantes das sete capitais com os maiores índices de violência entre jovens

 

(Rio de Janeiro) – Pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Ministério da Educação e Organização dos Estados Interamericanos (OEI) revela um cenário sombrio sobre violência na escola. De acordo com 70% dos alunos da rede pública de sete capitais, na escola em que estudam ocorreu algum tipo de violência nos últimos 12 meses. Um em cada cinco alunos afirmou ter sofrido violência física ou verbal. Desses, 65% apontaram como agressor um colega. Mais de 15% alegaram que a agressão partiu dos próprios professores.

“Diagnóstico participativo das violências nas escolas: os jovens” ouviu, entre janeiro e novembro de 2015, 6.709 alunos, de 12 a 29 anos, do ensino fundamental e médio. A pesquisa foi realizada em sete capitais que ostentam taxas de homicídio entre jovens maiores que a média nacional, que é de 82,7 homicídios por 100 mil jovens, verificada nas capitais, segundo o Mapa da Violência 2014. A participação dos alunos na construção dodiagnóstico foi fundamental e inovadora, já que eles participaram ativamente de todo o processo.

Entre os tipos de violência identificados na pesquisa, o cyberbullying, que engloba intimidações e xingamentos na internet e em aplicativos de conversa, aparece como responsável por 28% dos casos. Roubo e furto representam 25% dos casos e ameaças, 21%.

Um dos dados mais impressionantes da pesquisa é o local onde ocorrem os episódios violentos. A sala de aula, que, em tese deveria ser um lugar protegido, registra 25% das ocorrências – o mesmo percentual dos pátios. Em segundo lugar estão os corredores com 22%.

A pesquisa também revela que 22% dos alunos já viram armas na escola. Desses, 4,5 % admitiram que eles mesmos as levaram – entre os que portaram armas, facas e canivetes somaram 45%; armas de fogo 24%.

Discriminação é uma realidade para 27% dos alunos: 19% apontaram o lugar onde moram como a fonte de discriminação; 18% sua raça ou cor. Entre os entrevistados, 71% declararam-se pretos e pardos.

Dentre os tipos de violência listados pelos alunos, os problemas que mais incomodam são: furto/roubo (18,6%); ameaças e brigas (12%); outros alunos (11,2%) e o cyberbullying (7,2%). Outra queixa recorrente é quanto a infraestrutura dos espaços. Salas de aulas quentes, sem iluminação e com número excessivo de alunos tornam, segundo os jovens, o ambiente propício para o surgimento de conflitos.

Uma evidência de que os professores são percebidos pelos alunos como parte do contexto violento, é que eles são chamados para mediar apenas 14% dos conflitos. Nos casos de agressão, 28% dos estudantes pediram ajuda aos diretores e 20% afirmaram que revidaram sozinhos. Na etapa qualitativa da pesquisa, os jovens deram pistas dos motivos por trás dos números, relatando abuso de poder, agressões verbais e falta de diálogo por partedos docentes em sala de aula.

Diagnóstico participativo expõe a banalização da violência na escola em uma escala bastante elevada. Xingamentos e apelidos maldosos ou discriminatórios são entendidos como “brincadeiras” que fazem parte da interação entre os estudantes. Ocorre que muitas dessas situações evoluem para agressões físicas.

O cerco da violência

O entorno da escola também é identificado como preocupante: 81% dos alunos afirmaram ter algum nível de violência nas proximidades da instituição em que estudam, sendo roubo e furto o tipo mais comum de problema (35%), seguido de agressão física (26%).

Para entender de forma mais ampla a violência ocorrida dentro da escola, os pesquisadores buscaram aprofundar a compreensão sobre o entorno, já que a maioria dos alunos estuda próximo de onde mora. E pela primeira vez, os alunos foram os pesquisadores de sua própria realidade.

De forma participativa, os alunos fizeram observações sobre a escola e seu entorno, inovando na elaboração dodiagnóstico. A maioria deles relatou que sua escola está localizada em uma região com pouca ou nenhuma opção de lazer. Esgoto e lixo a céu aberto são parte do cenário de muitas delas, assim como o domínio do tráfico de drogas. Além de o próprio trajeto até a escola criar insegurança entre os alunos, o caos e a violência do entorno acabam sendo reproduzidos no ambiente escolar.

Apesar dos dados alarmantes, há também uma boa notícia: 47% dos alunos avaliaram a escola em que estudam como boa ou ótima. Péssima e ruim somaram 13%.

Saiba Mais

A pesquisa foi realizada por meio de uma parceria entre a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o Ministério da Educação (MEC) e a Organização dos Estados Interamericanos (OEI).

Ao longo de 11 meses de trabalho (entre janeiro e novembro de 2015), os pesquisadores entrevistaram 6.709 alunos, entre 12 e 29 anos, de 246 turmas do ensino fundamental e médio de 140 escolas públicas.

Diagnóstico participativo está inserido no Programa de Prevenção à Violência nas Escolas, da Flacso. A inovação no trabalho é que, pela primeira vez, os alunos participaram ativamente de todo o processo, o que dá ainda mais importância para o resultado do trabalho, construído de forma participativa. O resultado dessa metodologia foi além dos numéricos, ampliando a visão dos envolvidos sobre o que é a violência, já que, por passar muitas vezes despercebida, acaba banalizada.

As capitais escolhidas para o recorte estão destacadas no ranking de homicídios de jovens na edição de 2014 doMapa da Violência: Maceió (1ª), Fortaleza (3ª), Vitória (4ª), Salvador (5ª), São Luís (6º), Belém (12ª) e Belo Horizonte (14ª). Quase todas as capitais ultrapassaram a barreira de 100 homicídios por 100 mil jovens, sendo que Maceió supera a barreira de 200 homicídios por 100 mil (taxa de 218,1). A exceção é Belo Horizonte, com 91,9 mortes por 100 mil jovens. Esta taxa é maior que a média nacional e duas vezes maior que a do Sudeste, que é de 42,4 homicídios por 100 mil jovens.

A pesquisa foi coordenada pela socióloga Míriam Abramovay e teve a participação dos pesquisadores Mary Garcia Castro, Ana Paula da Silva e Luciano Cerqueira.

 

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