Esta matéria foi originalmente publicada na edição 229 do jornal Joca
Três estudantes do 9º ano do Colégio Santa Marcelina, de São Paulo, projetaram um bastão tradutor da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e foram finalistas da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), principal feira dessas áreas de conhecimento do país, realizada em março de 2024. A ideia surgiu para facilitar a comunicação entre ouvintes e não ouvintes durante interações rotineiras. O bastão foi pensado utilizando técnicas de robótica e programação que os alunos Lucas Cazorla Laurente, Guilherme Rocha Lessa e Thiago de Quina Barbosa desenvolveram sob a supervisão dos professores Caio Chaves Barbosa e Andressa Pinter Ninin, na disciplina chamada Iteenerário – ciência investigativa, promovida pelo Santa Marcelina para estimular a ciência entre os jovens. O trio também escreveu um artigo científico para apresentar o projeto na Febrace. Gabriela C., 10 anos, participante do Clube do Joca, entrevistou os estudantes para saber um pouco mais sobre a criação. Confira:
Por que vocês decidiram fazer esse bastão tradutor de Libras?
Em 2022, tivemos uma aula de pensamento computacional e conhecemos sensores de computadores que identificavam imagens e diferentes movimentos. Então, pensamos: “Vamos usar isso para alguma coisa”. Focamos em auxiliar pessoas com o que aprendemos. Ouvimos bastante sobre deficiência auditiva e entramos em contato com pessoas com deficiência auditiva; então, decidimos fazer algo dentro disso.
Como foi o processo de criar esse bastão?
Antes de tudo, focamos muito nessa aula de física e ciência que tivemos com os sensores. Pensamos em como desenvolver esse projeto, como colaborar com as pessoas, e então elaboramos o bastão. Enquanto estudávamos algoritmos, aprendemos o conceito de machine learning, que resumidamente são máquinas em que treinamos padrões por meio de um banco de dados. E aí, com base nesse banco, unimos isso com o uso do Arduino (plataforma que permite o desenvolvimento de softwares) e sensores, criando uma lógica que pudesse programar a leitura e tradução dos sinais de Libras.
Como ele funciona exatamente?
Primeiro tem a entrada de dados, que é a câmera, o sensor de fato do bastão, que é um banco de dados. Antes de tudo, alimentamos a base com várias imagens para o machine learning ser treinado. Quando o bastão (no caso, o banco de dados), já treinado com as informações, recebe as imagens que o sensor capta, seu sistema, por meio de inteligência artificial, checa dentro das informações armazenadas qual sinal mais se assemelha com a entrada de imagem que o bastão está recebendo. O sinal identificado é traduzido em formato de texto em uma tela no bastão.
Então ele identifica o gesto e aí mostra um texto traduzindo o sinal de Libras que a pessoa está falando?
É exatamente isso: ele vai receber uma imagem, interpretá-la usando o banco de dados e o algoritmo de inteligência artificial e, então, fazer a tradução de Libras para português.
Vocês gostaram de participar da Febrace?
A gente aprendeu bastante coisa nova, vimos vários outros projetos, conhecemos o campus da Universidade de São Paulo (USP), que é gigante e muito legal de visitar. E conversamos com muita gente de outros lugares, de diferentes cantos do Brasil — foi algo muito legal e importante para levar para a vida.
Eu imagino que vocês tenham feito alguns testes com o bastão, mas ele já foi usado alguma vez em uma situação cotidiana?
Funcionar de verdade, fora do papel e de fato ser algo funcional, sim. Só que ir para o mercado ou chegar à mão de alguém que realmente tem essa deficiência e a quem o bastão poderia ajudar, ainda não. Na própria Febrace ele foi utilizado e testado por deficientes auditivos, apenas ainda não chegou à rotina das pessoas, com a comercialização.
GLOSSÁRIO
SOFTWARE: sistema de coordenadas ou dados em um computador que executa o funcionamento de uma máquina.
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