Yara instala, em uma onça anestesiada, colar para fazer o monitoramento. Créditos da imagem: Emílio White

Yara Barros, de 59 anos, já ficou muitas vezes perto de uma onça. À frente do projeto Onças do Iguaçu desde 2018, seu trabalho é preservar e aumentar a população de onças pintadas e pardas em Foz do Iguaçu (PR). Ela faz isso monitorando os animais, mas principalmente ensinando as pessoas que moram na região a trocar o medo pelo encantamento com os bichos. Seus esforços e de sua equipe foram reconhecidos este ano com o prêmio Whitley Award, considerado internacionalmente como o “Oscar verde” por reconhecer iniciativas de conservação ambiental. Carla M., 11 anos, João Z.,10 anos, e Letícia B.,11 anos, do Clube do Joca, entrevistaram Yara, que mandou um recado: “quero que todas as crianças sejam loucas por onças!”. Confira:

Qual o principal objetivo do Projeto Onças do Iguaçu?

Nós lutamos para salvar a população de onças que vivem no Parque Nacional do Iguaçu e em 10 municípios que são conectados a ele, procurando garantir o aumento do número de animais. Essa é uma espécie da qual se tem medo, porque acredita-se que possa atacar uma pessoa e provocar danos financeiros, matando boi, porco, ovelha. Então apoiamos as pessoas que moram no entorno do parque para retirar os animais que, por algum motivo, cheguem em suas propriedades, e trabalhamos para mudar essa percepção, trocando o medo por encantamento.

Quantas onças vocês sabem que têm na área de atuação do Projeto?

Sabemos o número de onças-pintadas porque realizamos um censo a cada dois anos, tanto no Parque Nacional do Iguaçu quanto na área argentina do parque, que é vizinha à área brasileira. A última estimativa é de 2022 e indica que temos 94 onças, sendo 25 no lado brasileiro do parque. O resultado é animador: em 2009 elas estavam quase extintas, havia entre nove e 11 indivíduos. Além disso, em toda a área de Mata Atlântica há de 250 a 300 onças, então cerca de um terço delas está concentrado nesse trecho em que atuamos. Acreditamos que esse crescimento ocorreu porque existe uma mudança de percepção das pessoas sobre os perigos e ameaças das onças.

Como surgiu essa paixão por onças-pintadas? 

Eu trabalhei por muitos anos com pesquisa e conservação de psitacídeos, que é a família de papagaios, araras e periquitos. Em 2018 fui convidada para coordenar o projeto de animais carnívoros no Parque Nacional do Iguaçu. Eu nunca tinha trabalhado com onças, mas sabia sobre conservação, então aceitei o desafio e comecei a estudar bastante sobre esses animais. Dois meses depois, fiz minha primeira captura de onças para realizarmos pesquisas e então fiquei frente a frente com um animal. Foi o suficiente para encantar meu coração para sempre! Parece que tudo o que fiz na vida me preparou para trabalhar com as onças. 

Como bióloga, você já ficou perto de uma onça?

Muitas vezes! Nós capturamos onças, colocamos anestesias para que fiquem paralisadas e possamos coletar sangue e pelo, e colocar colares próprios para realizar monitoramento via satélite. Então eu já vi bem de perto, o que considero fantástico.

O que você acha mais magnífico nelas?

O que eu gosto mesmo é dos olhos dourados fascinantes. Eles são incríveis! Além disso, admiro a força e o poder que emana desse bicho. Apesar de ser absolutamente poderoso, ele é extremamente frágil diante das pessoas. 

 Yara instala, em uma onça anestesiada, colar para fazer o monitoramento. Créditos da imagem: Emílio White

Onças atacam as pessoas? 

Geralmente não. A tendência é que a onça se afaste. Mas as onças podem atacar no caso de se sentirem ameaçadas – e mesmo assim em situações muito específicas, quando se sente acuada sem ter para onde correr, ou para proteger seus filhotes ou um alimento. Nos 85 anos de história do Parque Nacional do Iguaçu, nunca houve um acidente entre onças e pessoas.

Qual foi o acidente mais grave que você viu uma onça sofrer?

Já resgatamos algumas onças depois de serem atropeladas e sabemos que elas são vítimas de caçadores ilegais e levam tiros.

Como você se sente ganhando esse prêmio? O que ele significa para você?

O Whitley Award sempre foi um sonho, então me sinto muito honrada. Na fase em que estou, mais velha, vejo que o trabalho valeu. Sinto que é o reconhecimento de uma vida dedicada à conservação, mas também do bom trabalho da equipe, que tem sete pessoas. Vale dizer que desde criança eu gosto muito de animais. Sempre lia enciclopédias para saber curiosidades sobre eles e, quando ganhei um periquito, fiquei encantada. Por isso, sabia que queria ser bióloga e trabalhar com conservação. 

O que você acha que precisamos fazer mais para cuidar do meio ambiente?

Você pode cuidar do meio ambiente como um todo com suas escolhas de consumo, seja reciclando, impactando menos o ambiente, ajudando a espalhar a mensagem sobre o encantamento com onças para o coração de mais pessoas. Precisamos olhar para o ambiente como quem olha para sua casa, com generosidade e cuidado, sabendo que a saúde do ambiente depende das suas ações.

As onças te ensinaram alguma coisa?

Muitas coisas! Aprendi que onde tem onça, tem vida. Isso porque a floresta precisa estar muito bem para manter uma população de onça no longo prazo. A onça me ensinou a ter resiliência, porque eu mudei totalmente de vida desde que trabalho com elas. Elas me ensinam a encantar, e eu acho que encantamento é uma ferramenta de conservação maravilhosa. As onças me dão essa paixão para continuar cuidando delas.

“Admiro a força e o poder que emana desse bicho. Apesar de ser absolutamente poderoso, ele é extremamente frágil diante das pessoas.”

Yara Barros sobre as onças
Yara recebe o Prêmio Whitley pelas mãos da Princesa Anne, da Inglaterra. Créditos da imagem: Divulgação

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