Em 23 de maio de 2021, a brasileira moradora de Campinas (SP) Aretha Duarte, de 40 anos, tornou-se a primeira mulher negra latino-americana a alcançar o topo do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, a 8.848,86 metros de altitude (distância entre um ponto e o nível do mar). Para isso, Aretha juntou cerca de 400 mil reais, inclusive, coletando e vendendo material reciclável. A montanhista, que é fi lha de migrantes pernambucanos, sempre acreditou que, com a escalada, traria mais visibilidade a projetos sociais que apoia. O repórter mirim Davi K., 11 anos, conversou com ela sobre sua carreira.

Como surgiu a ideia de subir o Monte Everest?

Eu já trabalhava como montanhista desde 2011. Comecei como vendedora e, hoje, sou guia de alta montanha. Mas só em 2019, passei a desejar essa escalada no Everest. O fato é que, por mais que eu já tivesse a experiência física, técnica e emocional, não tinha recursos financeiros. Então, voltei a trabalhar como catadora de recicláveis, com o projeto Da Sucata ao Everest. O objetivo não era só estar no topo da montanha, e sim alcançar recursos e visibilidade sufi cientes para promover transformação social e ambiental. Esse trabalho durou cerca de 13 meses, com a ajuda de familiares, amigos e até desconhecidos.

#pracegover: Aretha está com roupa toda escura, carregando uma mochila nas costas. Ela está caminhando com o auxílio de um bastão próprio para a prática de montanhismo. Crédito de imagem: BERNARDO COELHO, GETTY IMAGES/ISTOCKPHOTO

Como foi a sua fase de preparação e quem colaborou?

Bom, para escalar o Everest são necessários cinco requisitos: excelente condicionamento físico; conhecer escalada em rocha; conhecer escalada em gelo; ter volume de montanha [termo para “experiência em escalada”]; e ter escalado uma montanha de 7 a 8 mil metros.

Eu tinha cumprido esses passos em consequência do meu trabalho. Um ano antes do Everest, eu fiz minha manutenção física. Intensifiquei meu treinamento com três amigos formados em educação física: Jacky Lopes (com exercícios funcionais), Dani Sarmento (pilates, para respiração e postura) e Renato Fioravante (natação). Tive ajuda de uma nutricionista, a doutora Amalia Novaes; do Thiago Lacerda, fisioterapeuta e osteopata; da Rita Bragatto, psicóloga; e da Anne Hamon, mentora que me ajudou a organizar o projeto. Essa equipe multidisciplinar e voluntária foi fundamental para potencializar a minha preparação.

Quantos acampamentos você fez enquanto subia? 

Eu reservei 60 dias para estar na montanha e acabei ficando 54. Do vilarejo de Lukla (a cerca de 2.700 metros de altitude) até o campo base (5.300 metros) foram dez dias de caminhada. Depois começou de fato a escalada, em quatro etapas. Três delas têm a ver com o ciclo de aclimatação, ou seja, de adaptação ao ar rarefeito [pouca concentração e variedade de gases]. Nós subimos e descemos ao campo base [acampamento] três vezes. Em seguida, quando surgiu uma janela de tempo bom, fomos direto ao campo dois. Depois, ao terceiro e pernoitamos lá. Aí veio o quatro, que é o último acampamento (8 mil metros), em que descansei por algumas horas e do qual saí para o ataque ao cume [escalada final ao topo]. Parti por volta das 23h30 do horário de Nepal e cheguei ao topo em torno das 10h30. Fiquei aproximadamente quinze minutos ali para tentar comer e fazer fotos e vídeos, depois desci direto para o campo quatro.

Quais foram as maiores lições que você aprendeu? 

Eu sempre digo que montanha é uma escola. Algumas lições têm a ver com a certeza de que existe, sim, preconceito, machismo, racismo… Mas também aprendi que sonhos tão desafiadores só são possíveis quando a gente trabalha coletivamente. Eu não cheguei ao topo sozinha, tive apoio de muita gente e sou muito grata por terem acreditado em mim. Esse cume não é meu, é nosso. Que isso possa ser trazido para o dia a dia na cidade.

#pracegover: Davi está sentado, com as pernas cruzadas, em um banco de madeira. Ao fundo há um campo verde e árvores. Ele veste uma camiseta cinza e bermuda colorida e calça chinelo preto. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 223 do jornal Joca.

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