Matéria publicada originalmente na edição 247 do jornal Joca
Keyna Eleison é a cocuradora at-large da 36ª Bienal de São Paulo, exposição de arte realizada a cada dois anos e considerada uma das maiores e mais relevantes do mundo. O evento de 2025 será entre os dias 6 de setembro deste ano e 11 de janeiro de 2026, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, com entrada gratuita. Nesta entrevista, conduzida pelos nossos repórteres mirins do Clube do Joca, Carla M., 11 anos, André T., 9 anos, e Sophia L., 13 anos, Keyna fala sobre como a Bienal é organizada e sua importância para todos os artistas.
Como a Bienal impacta o cenário artístico local?
Ótima pergunta. Ela pode impactar de várias formas interessantes, porque não só trabalhamos com artistas já estabelecidos e conhecidos, que têm articulação em galerias e exposições anteriores, reforçando a carreira deles, como também apresentamos novos artistas para possíveis desdobramentos de trabalhos posteriores. É uma grande plataforma de visibilidade para vários artistas.
Qual o propósito desta Bienal? Que conceitos e valores ela traz?
O nome desta Bienal vem de um poema da Conceição Evaristo chamado “Da calma e do silêncio”. O curador-chefe escolheu uma frase desse poema para pensar o título “Nem todo viandante anda estradas”. “Viandante” é uma palavra antiga que significa viajante e foi usada para ampliar a ideia de percursos.
Como objetivo, a Bienal desenvolve uma linha de pensamento e cria conceitos a partir da pesquisa dos curadores. Traz artistas não só do Brasil, como de todo o mundo, para refletir sobre diferentes modos de pensar o que é arte. Queremos mostrar que arte não é algo fixo e que pode ter vários desdobramentos e responder perguntas da vida.
Nesta edição, pensamos trajetórias inspiradas no voo dos pássaros, que não seguem fronteiras ou países, e sim outros caminhos. Isso orientou nossa pesquisa e seleção de artistas.
Como vocês chegaram à conclusão de que o poema da Conceição Evaristo era o melhor para dar nome à Bienal?
Isso vem antes mesmo de a Bienal começar. O curador-chefe propôs um projeto para a Fundação Bienal, baseado em pesquisa sobre arte no Brasil a partir de som e poesia. Ele escolheu Conceição Evaristo porque a obra dela fala muito a respeito do tempo e de como nos relacionamos com o mundo. Ao usar uma frase de Conceição, reafirma-se também a importância do Brasil numa exposição internacional.
E para quem vai visitar, tem algum destaque imperdível?
Mais do que um destaque, a ideia é percorrer toda a exposição, porque ela foi pensada como um grande caminho. Desde o térreo até o terceiro andar do Pavilhão da Bienal, há pintura, escultura, instalação… tudo conectado por um desenho expográfico que convida o público a seguir percursos distintos.
Os artistas são convidados, sorteados ou pedem para participar?
São convidados. Nós somos cinco curadores — o curador-chefe, três cocuradores e eu, como cocuradora at-large. Juntos, desenvolvemos pesquisas e pensamos nos territórios a partir dessas trajetórias de pássaros. Cada curador contribui com a própria experiência, e assim selecionamos e convidamos os artistas.
O que significa ser cocuradora at-large?
É um termo sem tradução direta, como “Wi-Fi” ou “Bluetooth”. Significa que sou uma curadora que atua conectando várias partes do projeto. Uma das minhas funções foi pensar o programa público “Invocações”, que levou a Bienal a outros lugares do globo, como Tóquio, Zanzibar, Marrocos e Guadalupe. Também acompanho todo o processo desde o início.
Saiba mais sobre a Bienal de São Paulo: bienal.org.br.
“Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta, na aparente inércia.
Nem todo viandante anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio da poesia penetra.”
Trecho do poema “Da calma e do silêncio”, da escritora Conceição Evaristo
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