Esta matéria foi originalmente publicada na edição 247 do Joca
Um radar meteorológico usado para prever o tempo na Amazônia revelou mais do que chuvas: ele registrou o movimento de milhares de andorinhas sobre a floresta. A partir da análise dos dados obtidos, cientistas puderam, pela primeira vez, identificar e mapear o movimento desses pássaros na região. O estudo, publicado em agosto na Ecology and Evolution, foi liderado pela cientista brasileira Maria Belotti, que pesquisa aves migratórias nos Estados Unidos.
Maria e sua equipe analisaram códigos registrados pelo radar durante dois anos para encontrar andorinhas que voam a uma distância de até 150 quilômetros de Manaus. Em seguida, eles compararam os dados com informações de sites especializados em aves, como eBird e Wiki Aves, para identificar as espécies. “Uma pesquisa como essa só é possível porque hoje existe tecnologia que permite cruzar informações de diferentes fontes”, diz Maria em entrevista ao Joca.
O resultado é inédito e surpreendente: foram registradas, em média, 170 mil andorinhas diariamente. Em um só dia, o número chegou a cerca de um milhão desses animais.
O mapeamento também mostrou que as aves se concentram no fim da tarde ao longo do ano, com maior presença entre janeiro e maio. “Durante o dia, as andorinhas ficam em pequenos grupos, mas, ao entardecer, formam bandos, voando em espirais até se reunir em pontos específicos, chamados de dormitórios. Ali passam a noite e, ao amanhecer, levantam voo para recomeçar a rotina, até o próximo pôr do sol”, conta a pesquisadora. “Descobrimos que há andorinhas na Amazônia durante todo o ano. Sabendo onde elas estão, é possível proteger seu ambiente.”
Como as aves migratórias estão se adaptando aos efeitos das mudanças climáticas? Essa é a pergunta que Maria tenta responder com suas pesquisas. Ela explica que estudos que acompanham as andorinhas, por exemplo, ajudam a esclarecer se elas estão mantendo seu modo de vida, o que pode impactar na quantidade de insetos consumidos pelas aves ou no período de reprodução e, com isso, em um desequilíbrio ambiental.
Veja como é a rotina de trabalho da pesquisadora:
Fontes: Bori e Wiley.
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