#pracegover: Amanda usa um vestido preto. Ela está parada e segurando o violino na frente do corpo. Crédito de imagem: MARIO DALOIA E ARQUIVO PESSOAL

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) é uma das mais importantes da América Latina e tem papel essencial na divulgação da música clássica brasileira, com diversos álbuns premiados e uma agenda de turnês internacionais. A violinista Amanda Martins está entre os mais de cem músicos que compõem a orquestra, além de ocupar um dos cargos de chefia. Ela concluiu os estudos na Universidade Mozarteum de Salzburgo, na Áustria e, no Brasil, já foi premiada como uma das melhores intérpretes do compositor clássico Mozart. Helena Y, 11 anos, e Samara A., 12 anos, ex-participantes do Clube do Joca, entrevistaram a musicista. Confira.

Você entrou na Osesp de primeira ou precisou fazer o teste mais de uma vez? 

Foi uma longa jornada até chegar à Osesp. Eu já havia feito várias provas para outras orquestras e tinha experiência em tocar em grupo. Isso é importante porque tocar em uma orquestra é muito diferente de estudar sozinho; é como na medicina, em que, após a formação geral, você precisa se especializar. Em 2012, fiz uma primeira prova para a Osesp e cheguei até a fase final, mas não passei. Apesar disso, fui contratada temporariamente por um ano. Após esse período, precisei fazer uma nova prova e, dessa vez, consegui passar.

O que te inspirou a escolher o violino como instrumento? 

Acho que foram vários fatores. Minha avó tocava viola e violino e minha mãe também tocava viola, que é bem parecida com o violino, só que um pouco mais grave. Essas influências familiares foram importantes, e também teve um motivo social: minhas amigas na escola tocavam violino, e isso me deixou curiosa. Eu as via chegando com os cases [“estojos”, em inglês] dos instrumentos e achava superlegal. Elas participavam de ensaios, e aquilo me estimulou bastante. Acho que para crianças é fundamental esse incentivo de tocar com outras crianças, porque a música não foi feita para ser praticada sozinha — é essencial estar em grupo desde cedo.

Como é sua rotina de estudo e prática? 

Essa é uma pergunta bastante importante. É cansativa, como a de um atleta. Se ficamos uma ou duas semanas sem tocar, perdemos parte da técnica. Por isso, o estudo precisa ser diário, incluindo aquecimento, escalas, afinação e ritmo. Também treinamos a memória, já que muitas peças são tocadas de cor. Quando era mais jovem, cheguei a faltar na escola para estudar violino. No último ano do ensino médio, morava em Campinas e viajava três vezes por semana para São Paulo para tocar em uma orquestra. Era uma rotina bem puxada, mas todo esse esforço valeu muito a pena.

Você já se apresentou em outros países ou estados brasileiros? 

Sim, quase todos os anos, fazemos turnês internacionais e apresentações por várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza e Curitiba. Já tocamos na Alemanha, Áustria, Inglaterra, Estados Unidos… Em breve, faremos uma turnê pela Colômbia.

Sabemos que orquestra ainda é um ambiente predominantemente masculino. Você já enfrentou preconceito ou dificuldades na carreira por ser mulher? 

Que pergunta relevante. Sim, infelizmente. Assim como no mundo em geral, as orquestras refletem essas desigualdades da nossa sociedade. Ainda existem comentários machistas e situações complicadas. Felizmente, na Osesp não há diferença salarial entre homens e mulheres, mas o número de mulheres em cargos de chefia ainda é baixo. Eu sou apenas a terceira mulher entre 14 chefes na orquestra. Tento sempre dialogar com colegas homens quando algo inadequado acontece para que possamos melhorar essa relação; acho que devemos agir assim em todos os campos.

“A música tem esse poder mágico de unir as pessoas, e essa troca de olhares durante a apresentação é incrível.”

Se pudesse tocar com qualquer músico, quem seria? 

Eu adoraria tocar com o Yo-Yo Ma, um violoncelista que admiro muito. Ele desenvolve projetos incríveis com músicas folclóricas de todo o mundo e já tocou música brasileira também. Ele é uma grande inspiração para mim.\

O que você considera mais especial na Osesp? 

A conexão com os colegas e o público. A música tem esse poder mágico de unir as pessoas, e essa troca de olhares durante a apresentação é incrível. Às vezes, um olhar diz mais do que mil palavras, e essa sintonia é muito especial. Ver o público emocionado também é algo que nos conecta profundamente. Em algumas apresentações, vemos o público chorando, e isso é algo muito grande. A conexão que temos entre os músicos também.

Qual conselho você daria para jovens que sonham em ser musicista? 

Primeiramente, ouçam bastante música e estejam sempre abertos a novas ideias. A música envolve escuta atenta e concentração. Também é essencial se interessar por outras artes, como cinema, teatro e literatura, pois tudo isso contribui para a formação cultural. Leiam livros, vejam filmes, escutem música, visitem museus. Por fim, é crucial ter disciplina, assim como um atleta que precisa treinar todos os dias. Participar de concertos e viver experiências culturais enriquecedoras é essencial para crescer como músico.

Tem alguma história engraçada que ocorreu em um concerto? 

Sim, várias! Já aconteceu de tocar celular durante a apresentação, pessoas já dormiram e se assustaram com o som forte da orquestra. Uma vez, entrou uma barata no palco, e tentamos discretamente pisar nela! Também já precisei sair do palco porque achei que ia desmaiar por conta da pressão baixa. Embora o ambiente seja sério e exija muita concentração, essas situações acontecem e acabam rendendo boas histórias.

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