Crédito de imagem: arquivo pessoal

Eu sou um menino/ Que precisa de dinheiro/ Mas pra ganhar de sol a sol/ Eu tenho que ser bananeiro / Pois eu gosto muito/ De andar sempre na moda”, diz um trecho da música “O Vendedor de Bananas”, do artista brasileiro Jorge Ben Jor. É justamente com essa canção que Luiz Ribeiro dos Santos, professor da disciplina eletiva (matéria optativa para os estudantes) de educação financeira na Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Apolônio Sales, no Recife, Pernambuco, conversa com seus alunos acerca das possibilidades e sonhos que podem ser alcançados com o planejamento financeiro.  

Na Erem Apolônio Sales, as eletivas duram um semestre e abrangem diferentes áreas de estudo, de acordo com o próprio interesse dos estudantes. Segundo Luiz, a aplicação da educação financeira já foi oferecida em três semestres para alunos do 1°, 2° e 3° ano do ensino médio. Para o professor, lecionar a matéria tem sido um sucesso, uma vez que, durante esse período de aprendizagem, os jovens passaram a se interessar mais pelo estudo da economia, pela relação com o dinheiro e pelo planejamento de vida. 

“Temos falado sobre sonhos, consulta financeira, orçamento familiar, orçamento pessoal e muito mais. Eu percebi que no 3° ano, em que os alunos estão na fase dos 17 ou 18 anos, esse interesse tem sido maior. Principalmente porque eles estão a um passo da formação, da graduação, do mercado de trabalho”, comenta Luiz sobre a busca dos adolescentes pela matéria. 

Durante a semana, duas aulas da eletiva são oferecidas no contraturno dos estudantes, que aprendem não só questões da matemática financeira (que envolve cálculos como aplicação de juros, montante, noções sobre tributos) e economia, como também (e principalmente) desenvolvem um olhar social e pessoal sobre o significado do dinheiro e seu uso. “A gente fala muito de sonhos, de como realizar esses ideais na vida. Costumo fazer uma pergunta interessante para eles, sobre o amor e o dinheiro, como eles dão importância a essas coisas. ‘O dinheiro é mais importante do que o amor’, a maioria responde. Mas nós colocamos que são dois fundamentos relevantes na vida. A gente está aqui para manifestar esse amor, para viver uma vida social intensa e boa, mas também é essencial cuidar do dinheiro, porque a parte financeira da pessoa é um fundamento importante da vida. Chamamos a atenção, inclusive, para as potencialidades pessoais, para trazer para eles o empoderamento, a certeza de que podem, sim, construir uma vida próspera.”

Para os alunos, as aulas abrem olhares e possibilidades sobre um mundo de oportunidades a partir da organização econômica. “Muitas vezes não temos essa educação em casa, então aprender na escola é uma dádiva, saber sobre os impostos e como economizar. Para mim, que já trabalho, as aulas fizeram com que muitas coisas mudassem. Hoje já sei como organizar e economizar com certas coisas, prevenir alguns imprevistos no futuro” , comenta Maria C., de 18 anos, sobre o impacto das eletivas em sua vida pessoal.

“As aulas no estimulam a ter sonhos e idealizar um futuro próspero. Cada pessoa precisa ter seus sonhos, e esses sonhos devem virar projetos de vida para que se tornem realidades futuras”, Kaio C., 18 anos.

Finanças desde cedo

Já no Colégio Santa Maria, em São Paulo, os alunos do 6° ao 9° ano ainda não possuem preocupações tão próximas com o dinheiro, mas já começaram a aprender as melhores formas de planejar um negócio, gerir lucro, entender o funcionamento de aplicações financeiras e o impacto social que existe por trás de cada decisão econômica, seja ela tomada em âmbito pessoal ou governamental. Carla Afonso, professora de matemática do colégio, explica que a partir do uso dos livros paradidáticos Seu Dinheiro, Sua Decisão, da editora Harbra, a educação financeira foi introduzida de maneira permanente na grade curricular dos alunos do fundamental I, dentro da disciplina de matemática. A partir disso, Carla aliou o estudo financeiro a um projeto interdisciplinar (que envolve outras matérias, como geografia, ciência da natureza e língua portuguesa) já existente no 8° ano, o Ações Empreendedoras.

Crédito de imagem: arquivo pessoal

“No projeto, eles tinham que pensar em abrir um negócio do ramo alimentício, e cada sala tinha um ramo, por exemplo: pizzaria, lanchonete, produção de marmitas. Dentro disso, os alunos foram pesquisar o que é uma MEI, como abrir uma, tiveram que fazer a planilha de custo, lucro, a logística da empresa, o cardápio, logotipo, tudo para apresentar no trabalho final. E então eles usaram o que aprenderam nas aulas teóricas; muitos não sabiam a diferença entre crédito e débito, por exemplo, e outros conceitos importantes”, explica Carla sobre o Ações Empreendedoras. 

A professora relata que o projeto foi um modo eficaz de aproximar os estudantes do mundo financeiro, já que a prática da matéria e pesquisas de campo, como a visita a empreendimentos, fizeram com que houvesse um interesse genuíno dos jovens, mesmo que se tratasse de situações ainda distantes de seu cotidiano.

“Durante esse estudo, aprendemos muitos conceitos financeiros, como consumo sustentável, influências da mídia e principalmente como lidar com o nosso dinheiro”, afirmam Beatriz F., Pietra P., Bruna B. e Julia N., integrantes de 13 anos do grupo Eco Snacks, participante do projeto. 

“Nós, como estudantes, achamos que o ensino financeiro deve ser apresentado no começo da juventude, já que, a partir desse momento, teremos que lidar com custos e gerenciamento do nosso dinheiro, pensando no futuro”, opinam Catarina S., Clara R., Gabriela B., Laura H., Victoria R. e Yumi S., integrantes de 13 e 14 anos do grupo Hagos.

Carla ressalta que as aulas englobam, além dos estudos sobre matemática financeira e o projeto interdisciplinar, o conceito de economia como um todo. “Também tentamos falar, na medida do possível, de uma maneira que seja da compreensão deles, sobre outros campos da economia, que abrangem projetos sociais, situações diferentes, problemas envolvendo dinheiro. Desenvolvemos essa discussão para além do mercado financeiro.”

Glossário: 

Montante: soma de um valor inicial de dinheiro e dos juros aplicados àquele valor em determinado período.

MEI:  significa “microempreendedor individual” e é um tipo de registro jurídico para profissionais autônomos.


Tributos: taxas que os governos (municipais, estaduais e federal) cobram da população. O dinheiro arrecadado é utilizado em áreas como educação e saúde. 

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