“Em pauta” da edição 237 do jornal Joca
Para criar conexões, muitas vezes o caminho mais acessível é a palavra — escrita, falada ou digitada. Na edição anterior do Joca, o “Em pauta” abordou maneiras de estabelecer diálogos e fortalecer vínculos entre diferentes gerações. Contudo, além de projetos que promovam essa aproximação, como esses grupos podem se unir para construir algo juntos?
Os estudantes do ensino fundamental 2 da E. E. Vereador Durval Evaristo dos Santos, em Itaquaquecetuba, São Paulo, participam de uma ação em que escrevem cartas ditadas por idosos. A escola promove encontros frequentes entre as duas gerações. “Fazemos essa atividade para sensibilizar os alunos sobre a importância de valorizar os idosos”, conta Nadir Godoi, diretora da instituição de ensino. “Temos uma parceria com shoppings da região, onde ocorrem os encontros. Cada estudante acompanha um convidado, e a conversa flui naturalmente. Depois do bate-papo, um compartilha sua história com o outro.”
Os alunos registram essas narrativas, transformando as memórias em cartas endereçadas, na maioria, a entes queridos. As mensagens são enviadas pelo correio com o apoio da escola. Depois, o colégio promove rodas de conversa para que os estudantes dividam suas experiências, aprendendo a ouvir atentamente.
“A grande importância dessa iniciativa está em entender que os mais velhos têm muita experiência de vida. Aprendi que eles já passaram por muitos desafios, então é sempre enriquecedor ouvi-los”, conta Isabella S., 13 anos.
“É bom saber a história de outras pessoas, a cultura também. Assim eu vi o quanto é importante respeitar todas as culturas e religiões”, diz Brenda R., 13 anos, sobre a troca com os idosos.
No Colégio Santa Maria, em São Paulo, alunos do 3º ano do ensino fundamental interagem de maneira interdisciplinar com idosos. Por meio de aulas sobre multiculturalismo, aprendem a respeito de diversas realidades da sociedade. Além disso, compreendem a relevância do Estatuto do Idoso e outras políticas públicas voltadas para essa faixa etária. Alunos do curso de Educação para Jovens e Adultos (EJA) do colégio também são convidados a compartilhar suas vivências com os mais jovens.
“O envelhecimento é desafiador para muitos. Assim como incentivamos as crianças a valorizar a infância, precisamos ensiná-las a reconhecer a importância da velhice. Muitas vezes, o contato com os avós é limitado, e essas iniciativas ajudam a fortalecer laços”, explica Elisabeth Costa, coordenadora educacional.
Em uma atividade especial, a turma do 3º ano recebeu em sala de aula os próprios avós dos estudantes da turma, participando de uma roda de conversa em que histórias foram contadas.
“Nossa turma ouviu relatos dos avós imigrantes, que vieram contar um pouco das suas histórias. A avó da Cecília contou que viu a Segunda Guerra Mundial e que perdeu a visão de um olho durante esse período. Outra avó contou que, quando era criança, subia em árvores para colher frutas. Essa era a diversão dela”, relata Manu V., 8 anos, após ter ouvido as histórias de diferentes avós da turma.
Além das atividades pedagógicas, os estudantes realizam trabalhos voluntários em instituições que atendem idosos. Alunos do curso de Educação Para Jovens e Adultos (EJA) do colégio também compartilham as próprias vivências com as crianças.
“Uma aluna da EJA, Maria, decidiu voltar a estudar porque não teve essa oportunidade na infância. Durante o dia, trabalha, e, à noite, aprende a ler e escrever. Contou que precisou assinar um documento, mas não sabia como. Agora, está conseguindo, e isso a deixou muito feliz”, conta Mariana P., 8 anos.
Outro espaço de convivência intergeracional é o Prisma, Centro de Estudos do Colégio Santa Maria, que oferece cursos para o público 60+. Em uma parceria especial, os alunos participaram de um evento promovido para os estudantes do Prisma. A atividade ofereceu um chá tradicional para os idosos, recepcionados por 40 crianças cantando.
Além desse encontro, os estudantes do 3º ano integram exposições e projetos conjuntos com idosos do Prisma, promovendo a troca de experiências entre gerações. “A música e as brincadeiras permitem resgatar memórias afetivas. O encontro entre gerações nos lembra que todos temos algo a ensinar e aprender”, conclui Rosana Massuela, de 63 anos, aluna do Prisma.
Para Suzana Torres, coordenadora do espaço, uma reflexão fundamental é sobre como a sociedade enxerga a velhice. “O termo ‘terceira idade’ sugere uma hierarquia, como se houvesse etapas fixas e isoladas de desenvolvimento: infância, vida adulta e velhice. Mas, na realidade, onde essas fases se encontram? O idoso frequentemente sofre apagamento”, diz ela.
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