Arte circense é introduzida na infância e juventude por diferentes iniciativas educacionais
Por Larissa Mariano
A arte circense, para além do espetáculo de luzes, acrobacias e piadas, envolve práticas que requerem um grande período de prática e estudo. No entanto, esse aprendizado pode acontecer de diferentes formas e meios —inclusive, ainda durante a primeira infância. Na cidade de São Paulo, o projeto Fábrica de Cultura, iniciativa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, oferece gratuitamente aulas de circo para o público infantil e jovem. Em 2022, dentro da Fábrica também foi criado o Folia, programa de formação em circo para aprendizes que já foram alunos da Fábrica ou em outros cursos livres da área. As aulas são realizadas na Fábrica de Cultura da Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo.
Para Rodrigo Matheus, coordenador do Folia, a iniciativa é uma oportunidade que cria acesso para jovens se profissionalizarem e adentrarem o meio de mercado da arte circense, além de desenvolver outros aspectos socioculturais importantes. “É o único curso desse tipo que paga uma bolsa de estudos, uma ajuda de custo, vale-transporte e vale-refeição para os aprendizes, em todo o estado de São Paulo. E é o segundo curso no Brasil do tipo. Tanto o conhecimento artístico, o domínio de técnicas de linguagens artísticas, como especificamente a linguagem do circo empoderam a pessoa, deixam-na com um grau de confiança, de segurança em si mesma, que é muito potente”, explica ele.
Muitos dos jovens selecionados para participar do Folia, que tem número limitado de vagas para uma aprendizagem efetiva, foram aprendizes da Fábrica quando menores. Tanto nos cursos da Fábrica como no Folia, são oferecidas diferentes aulas na grade de ensino: malabares, acrobacias, aéreos, equilibrismo etc., com cada aluno podendo se desenvolver mais em áreas específicas. Além disso, no Folia há o ensino de disciplinas teóricas como filosofia, política das artes, funcionamento do corpo etc.
Para Luiz Augusto, educador de aulas de circo para crianças e jovens na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, localizado na zona sul de São Paulo, o projeto abrange um leque de pessoas, diversidade esta que é de grande importância no ambiente das aulas. “Temos aprendizes que já praticaram, aqueles que nunca tiveram contato, outros que possuem afinidades. É um coletivo que inclui crianças, jovens e pessoas diferentes, e tudo isso também é trabalhado. Ensinando a arte, no nosso caso a do circo, essa arte não fica só ali: como seres humanos também trabalhamos o cuidado com o outro”, ressalta.
“É uma experiência legal, pois nunca tinha feito arte. Eu gosto de superar meus medos, por exemplo, nunca tinha feito esquadro na lira [movimento realizado na lira, uma grande argola aérea] e agora já consigo”, comenta Isadora B., de 12 anos, aluna do curso de circo na Fábrica de Cultura.
“Além disso, temos ali alunos com diferentes realidades, rotinas e dificuldades. Muitas vezes foi extremamente difícil manter esses aprendizes no curso, porque é algo que demanda tempo e esforço; eles precisam trabalhar, ajudar em casa, então é um trabalho contínuo, e muitos acabam saindo. E conseguimos mostrar que a arte abre possibilidades para todos”, complementa Luiz acerca do campo alcançado pela iniciativa.
O ponto também é importante dentro do Folia: “Precisávamos de um corpo docente e uma equipe técnica diversa, respeitando a realidade inclusive da periferia, para que quem entre no curso sinta que a própria diversidade está ali”, conclui Rodrigo.
Em Santos, no litoral paulista, o Colégio Jean Piaget oferece aulas de aprofundamento em circo no contraturno. O ensino de circo trabalha a consciência corporal dos alunos, além de estimular disciplinas como a palhaçaria, arte voltada especificamente para o universo dos palhaços. “É bem legal, a gente aprende várias coisas: dar cambalhota, fazer avião… Eu adoro. O circo me deixa feliz, me ajuda na parte motora, a ter mais flexibilidade”, diz Marina C. P., 8 anos.
Tatiana Luz, coordenadora do aprofundamento em circo, afirma que as aulas têm forte influência no aspecto cognitivo e emocional dos alunos. “É interessante perceber também a maneira como eles passam a ver a arte não apenas como um hobby, e sim como uma profissão”, finaliza.
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