Uma entrevista com Verena Paccola, que descobriu corpos celestes em projeto da Nasa
Verena Paccola, de 23 anos, é estudante de medicina pela Universidade de São Paulo (USP), técnica de enfermagem pela Universidade de Campinas (Unicamp) e descobriu 25 asteroides por meio de um projeto da Nasa (a agência espacial dos Estados Unidos).
A jovem ficou conhecida pela descoberta astronômica e acabou se tornando personagem do projeto Donas da Rua, da Mauricio de Sousa Produções, que homenageia diferentes figuras femininas. E tem mais: Verena apareceu na lista “Forbes under 30”, da edição brasileira da revista Forbes, que destaca jovens do Brasil de sucesso em diversas áreas.
Para saber mais sobre a história de Verena, Helena T., 9 anos, e Diego P., 10 anos, membros do Clube do Joca, fizeram uma entrevista com ela. Confira.
Asteroides: corpos rochosos que também orbitam o Sol, porém de tamanho bastante menor do que o de um planeta.
Diego: Como você fez para participar do projeto da Nasa?
Eu comecei a participar em 2020, na primeira vez que o projeto aconteceu aqui no Brasil. Esse projeto existe internacionalmente, então qualquer pessoa do mundo pode se inscrever e participar, mas quando o país faz uma campanha focada para os próprios habitantes participarem, fica muito mais fácil. Eu me inscrevi e fiz um treinamento on-line – estávamos no primeiro ano da pandemia, nada era presencial. Tudo é realizado em um programa do computador, um software da Nasa.
Helena: Como se descobre um asteroide?
Depois que você se inscreve para participar e faz o treinamento, eles passam a te enviar imagens que são tiradas por um telescópio no Havaí. Esse telescópio tira várias fotos do espaço e envia uma sequência de quatro imagens. Se uma imagem é tirada depois da outra, e assim sucessivamente, há um intervalo de tempo entre a primeira e a última, certo? Nesse período o espaço pode ter mudado. As estrelas, por exemplo, não vão aparecer em lugares diferentes na sequência, porque a diferença de tempo foi muito pequena. Já os asteroides, quando caminham em uma órbita, estariam em uma posição diferente em cada imagem. Então, você pega esse pacote de imagens enviado pelo telescópio e coloca no software. O software vai mostrar a sequência, e é possível ver o que mudou no céu naquele intervalo de tempo. Essas diferenças podem ser um asteroide ou não! Quando eu vejo alguma coisa se movendo, posso ver os números relacionados a esse objeto, fazer uma análise numérica para ver se pode ser um asteroide ou não. Se eu achar que sim, envio um relatório para a Harvard, universidade dos Estados Unidos, que vai analisar e falar para a Nasa se é um asteroide ou não.
Órbita: é a trajetória de um astro em torno de outro, ou seja, girando em volta dele. A Lua está em órbita da Terra, e a Terra está em órbita do Sol.
Helena: Enquanto você falava, me surgiu uma dúvida. O local em que esse telescópio do Havaí fica localizado é um ponto estratégico para que ele possa capturar essas imagens?
Ah, com certeza. É um telescópio que é utilizado para esse programa em todo o mundo. Na verdade, é um conjunto de telescópios que tem lá, às vezes muda o telescópio que a gente usa, mas é sempre desse mesmo observatório e está sempre nesse mesmo lugar. Eu não sei exatamente como é, mas provavelmente deve ser em montanhas, em locais mais afastados da cidade, onde dá para ver melhor o céu e o espaço. Com certeza uma área bem estratégica.
Diego: Todo mundo pode participar desse projeto?
Sim, todo mundo pode participar, você só precisa ter um computador com acesso à internet. No ano que eu participei, era tudo mais complicado, porque não tinha tido o projeto aqui no Brasil antes e tudo ainda era inglês, ninguém estava muito familiarizado com o software. A gente ainda estava aprendendo como usar esse programa para atrair mais gente. Agora que o projeto já acontece todo ano e tem bastante gente participando, já que ele cresceu muito, está muito mais fácil para quem quiser entrar. Inclusive vocês estão superconvidados a participar. No meu canal do YouTube tem vídeos em que eu ensino como caçar asteroides, onde clicar e mexer no software, o programa que a gente usa no computador, para ficar muito mais fácil e mais pessoas interessadas poderem participar. Mas qualquer pessoa de qualquer idade pode participar.
Diego: Em qual asteroide, estrela, constelação ou planeta você se inspira?
Difícil essa! Eu gosto muito de Júpiter, acho um planeta muito bonito. De asteroides, estou esperando para saber se vou poder dar nomes para os que eu detectei e, se eu puder dar nome para um, quero que seja o da minha vó, Rochelle. Então esse provavelmente vai ser meu favorito.
Diego: Você pretende continuar atuando em astronomia?
Meu sonho sempre foi ser médica, e pretendo me formar médica. Mas eu posso juntar um pouco das duas áreas. Por exemplo, eu faço medicina, mas falo de asteroides e astronomia todos os dias, então já é fazer alguma coisa na área. Também estou pensando em medicina espacial, que juntaria as duas coisas. Eu poderia ir para o espaço fazer pesquisas em gravidade zero. São assuntos que eu penso para o futuro, mas meu primeiro plano é me formar médica.
Helena: Como você se sente em fazer todas essas descobertas?
É bem doido, porque eu nunca pensei que a astronomia estaria tão presente na minha vida. A melhor parte disso não são nem os asteroides e tudo mais, que passou na televisão, saiu em revistas etc. A melhor parte disso é que muitas crianças, da idade de vocês, e muitos jovens também, adultos, vieram me procurar e criaram interesse por ciência ao ver minha história. Inspirar essas crianças e jovens a se interessar por ciência é a melhor parte para mim.
Helena: O Mauricio de Sousa criou um personagem da Turma da Mônica para você. Como você acha que ela vai influenciar outras crianças?
O projeto Donas da Rua, da Mauricio de Sousa Produções, escolhe mulheres que julga merecedoras de reconhecimento e cuja história deve ser contada. Então criou uma personagem. Tem várias personagens femininas, atrizes, escritoras, cientistas, atletas etc. Fui transformada nessa personagem, lançada no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência de 2022, no dia 11 de fevereiro. Eu amei, foi a melhor homenagem que eu já recebi na vida. Eu aprendi a ler com Mauricio de Sousa, com a Turma da Mônica.
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