Crédito de imagem: reprodução de vídeo

Lone Westergaard é professora titular de inglês na N. Zahles Gymnasieskole, escola secundária privada localizada em Copenhague, na Dinamarca.

Como você fala sobre educação midiática na sala de aula? Existem abordagens diferentes para faixas etárias e níveis de ensino distintos?

Ah, sim, com certeza. Eu ensino inglês no 6º, 7º e 8º ano, atualmente, e também sou professora titular. Nas aulas de turma, a gente conversa bastante, e há uma forma diferente de abordar o assunto, dependendo se estou no 6º ou 8º ano. Então, sim, eu tenho que me adaptar, porque um aluno do 8º ano sabe muito mais do que um do 6º.

São temas diversos ou o nível da conversa é diferente?

Com certeza, temas diversos. Por exemplo, no 6º ano — em que comecei a lecionar em 2025 — conversamos bastante sobre redes sociais e quem tem Instagram, porque sabemos que a idade mínima é 13 anos, mas muitos têm. Isso é uma decisão dos pais.

Já no 8º ano, os estudantes muitas vezes sabem mais do que eu. Conhecem mais sites, porque a geração mais velha acaba tentando se afastar um pouco disso, por ocupar muito tempo.

Na idade deles, sobre quais assuntos vocês conversam?

Conversamos muito a respeito de como a mídia e as redes sociais incentivam comparações o tempo todo. Falamos sobre imagem corporal, por exemplo, e como as redes retratam uma vida perfeita. Isso é mais tema do 8º ano.

Já no 6º, o foco é mais no básico: mostrar que nem tudo que reluz é ouro, que as coisas nem sempre são como parecem, mesmo que sejam mostradas dessa maneira.

Quais ferramentas e formatos de mídia você usa com os alunos?

Temos vários recursos. Utilizamos computadores nas aulas. Todos os estudantes entregam os celulares pela manhã, e estes ficam guardados.

Então eles não podem utilizar o celular?

Não, só se for algo relevante para o que estamos fazendo na aula, para o aprendizado. Caso contrário, não. Eles também não usam o celular nos intervalos — a ideia é que conversem entre si em vez de ficar olhando para a tela.

Também temos acesso a ferramentas como linhas do tempo, padlets e algo chamado School Tube, uma espécie de YouTube para escolas. É um ambiente bem fechado — só dá para acessar dentro do colégio e com login pessoal.

A popularidade crescente da inteligência artificial mudou o modo como você aborda a educação midiática?

Sim. No grupo de professores, estamos lendo bastante sobre isso atualmente. Acabei de pegar um livro sobre como combinar linguagem e IA e também sobre ferramentas de tradução automática.

Acho que a abordagem vai mudar um pouco, porque precisamos ensinar às crianças as vantagens — e também, com certeza, as desvantagens.

Então você também está aprendendo?

Certamente. E acho que todos os professores sabem que precisam se educar mais agora. Mas o desenvolvimento é muito rápido, e é difícil acompanhar.

Você já enfrentou algum desafio ao discutir temas sensíveis com os alunos? Como lidou com isso?

Sim. Muitas turmas assistem ao Ultra News — programa de notícias para crianças — durante os intervalos do almoço. Eles falam sobre assuntos sérios, como a guerra na Ucrânia, mas de forma adaptada, sem mostrar imagens fortes. Eles explicam um ponto por vez.

Às vezes, os alunos dizem que viram algo no YouTube ou nas redes sociais e comentam: “Eu não pedi para ver isso”. Quando isso acontece, conversamos. Mas nunca vivenciamos uma situação mais intensa ou traumática juntos. Somos bastante cautelosos, especialmente com temas como a guerra da Ucrânia. É preciso ter cuidado, porque os alunos trazem as próprias histórias — muitos têm parentes envolvidos.

Esse tipo de educação está presente em todas as disciplinas da escola ou é específico de alguma delas?

Na verdade, está em todas. Como docentes, todos devemos ensinar isso em nossas aulas, mas como professora titular, tenho uma responsabilidade maior.

Às vezes, o pai de um estudante sabe muito sobre determinado assunto e ensina em casa. Mas na escola, todo ano, temos áreas de foco — pode ser mídia social, IA ou outro tema relacionado à mídia. Como grupo, os professores precisam trazer esses assuntos para a sala de aula.

Então vocês estão constantemente sendo treinados para isso?

Sim. O grupo de professores recebe formação, especialistas vêm conversar com a gente e passamos algumas aulas discutindo como levar esses assuntos aos alunos do 6º ao 8º ano.

Você já teve que lidar especificamente com casos de desinformação ou discurso de ódio em sala de aula?

Discurso de ódio não diretamente. Às vezes, os estudantes comentam que viram ou ouviram algo, mas é tudo muito reservado.

Sobre desinformação, nas aulas de ciências sociais e história, falamos bastante sobre fontes confiáveis. Ensinamos como identificar se um site é legítimo ou não. Quando peço pesquisas, costumo indicar sites que já verifiquei, como a BBC.

Como os alunos reagem às atividades que envolvem análise crítica ou criação de conteúdo?

Eles reagem bem. O sistema educacional dinamarquês incentiva muito o pensamento crítico. Os alunos são constantemente incentivados a refletir: “O que você acha disso?”, “Você acredita nisso?” — então estão acostumados a ter opinião, vem de maneira natural.

Na sua opinião, a educação midiática ajuda os estudantes a confiar mais ou menos na mídia dinamarquesa?

Acho que temos um nível alto de confiança tanto no governo como na mídia. Por exemplo, confiamos bastante na TV e na rádio públicas, mas é importante estar sempre alerta. O letramento midiático ajuda os alunos a se sentir mais competentes e seguros para navegar pela informação — e é isso que queremos.

Quais são os elementos-chave de uma boa educação midiática para crianças e jovens?

Eu diria que o principal é o pensamento crítico. Sempre se perguntar: “Qual é o propósito disso?”, “O que essa pessoa quer que eu pense ao divulgar isso?”. A mídia oferece muitas possibilidades, mas também tem limites. Não são só flores e unicórnios, né? É fundamental manter os pés no chão.

Sempre que você entra no ciberespaço ou consome algo, pense: “O que é isso? Onde estou? O que eles querem de mim?”. Desconfiar um pouco é saudável.

Como o governo trabalha com as escolas para auxiliar esse público?

Esta é uma escola particular, então o governo não atua diretamente. Temos um currículo, e há diretrizes sobre o que devemos fazer. Nas escolas públicas, acho que há um plano mais unificado. O governo envia temas que devem ser trabalhados, e os alunos são avaliados nisso. Eles podem, por exemplo, ter que produzir um podcast ou analisar fontes em história ou ciências sociais. Faz parte do que devemos ensinar.

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