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Leo Pekkala é diretor do Instituto Audiovisual da Finlândia, órgão responsável pela promoção e coordenação da educação midiática no país. Em entrevista ao Joca, ele falou sobre o histórico da alfabetização midiática na Finlândia, a relação da população com a mídia e a importância desse tipo de ensino para crianças, jovens e adultos.

Quando a alfabetização midiática começou a ser abordada pela instituição?

Bem, como uma instituição governamental, começamos em 2012. Então, já faz 12 anos que fazemos isso como uma autoridade governamental. Nós somos a autoridade na Finlândia que tem o mandato legal para promover a alfabetização midiática para todas as pessoas do país.

Mas antes disso, ela já estava sendo abordada nas escolas?

Sim, no nível escolar, a alfabetização midiática faz parte do currículo há muito tempo. Na verdade, desde 1970. Naquela época, não usávamos o termo “alfabetização midiática”, e sim “educação para os meios de comunicação de massa”. A terminologia mudou com o tempo, mas a ideia de ensinar crianças e jovens a entender como os meios funcionam, quem está por trás das histórias, como se fazem artigos, como se produzem programas de TV — tudo isso está no currículo há mais de 50 anos.

A tecnologia foi se desenvolvendo e os termos mudaram. Agora falamos em alfabetização midiática, com todas as tecnologias digitais e móveis disponíveis. E o tema mais recente, claro, é a inteligência artificial na educação.

Como isso mudou ao longo dos anos?

Desde os anos 1970, temos a alfabetização midiática no currículo como um tema transversal — ou, atualmente, como uma competência transversal. Ou seja, ela atravessa todo o currículo, em todas as áreas do conhecimento. Não é uma disciplina isolada. Isso significa que todos os professores precisam abordar a alfabetização midiática, seja ensinando matemática, línguas ou qualquer outra matéria.

Por que o governo e a comunidade acharam que seria importante ensinar isso?

Acho que tudo começou com os pesquisadores acadêmicos, que começaram a falar sobre a importância desse tipo de educação nas escolas. Inicialmente, nos anos 1970, falava-se muito sobre a influência da televisão e os possíveis danos de assistir TV em excesso. Depois vieram os computadores, a internet e, agora, a tecnologia móvel.

A discussão continua semelhante — só mudam os termos e os meios. Hoje falamos sobre os danos de passar tempo demais online ou jogando. Mas também queremos destacar que é preciso entender como a mídia funciona para poder participar da produção de conteúdo. Com a internet e as redes sociais, isso ficou ainda mais importante. Todo mundo produz conteúdo, de alguma forma.

Entender os mecanismos da mídia se tornou uma habilidade cívica básica — tão importante quanto aprender a ler e escrever. Por exemplo, ao tirar uma foto, você escolhe o que incluir e o que deixar de fora. Essa é uma decisão editorial — algo que jornalistas fazem. Então, mesmo sem falar diretamente de jornalismo com crianças pequenas, podemos brincar com ideias parecidas. À medida que crescem, elas vão entendendo os significados mais complexos por trás das coisas.

Então o conteúdo vai evoluindo conforme elas crescem?

Sim. O conteúdo vai se desenvolvendo com o tempo. Hoje, no nosso currículo, começamos desde os cuidados na primeira infância. Já nas creches, as crianças pequenas brincam de contar histórias, tiram fotos com celular ou câmera e compartilham com os amigos.

Depois, no ensino médio, começam a criar conteúdos mais jornalísticos, aprendem a reconhecer fake news, e discutem as diferenças entre desinformação, má informação e notícia verdadeira.

Vocês organizam uma Semana de Alfabetização Midiática. Como funciona?

Desde 2012, quando criamos esse escritório ligado ao Ministério da Educação e Cultura, promovemos a Semana de Alfabetização Midiática. Trabalhamos com diversas organizações pelo país. Cada ano escolhemos um tema, e as organizações produzem materiais a partir de suas próprias perspectivas.

Disponibilizamos esses materiais para professores, bibliotecários, educadores e outros interessados.
No começo, havia muito material impresso. Hoje, quase tudo é online. Os materiais atendem diferentes públicos: professores, pais, jovens e até idosos — por meio de organizações especializadas.

E como vocês se conectam ao trabalho diário das escolas? Os alunos participam diretamente?

Não trabalhamos diretamente com os alunos ou professores dessa forma. Temos uma agência irmã, também sob o Ministério da Educação e Cultura, chamada Agência Nacional de Educação da Finlândia. Eles são responsáveis pela implementação do currículo.

A educação básica é responsabilidade dos municípios, que recebem financiamento e devem organizá-la. Existe um currículo nacional, mas cada município cria sua versão local, mantendo os princípios centrais e adaptando questões locais. Os professores participam de formações obrigatórias — ao menos três dias por ano — que os municípios devem oferecer. Grande parte dessas formações aborda temas atuais, como alfabetização midiática, e são ministradas por universidades ou organizações especializadas.

Nosso papel, como autoridade central em Helsinque, é apoiar essas organizações locais. Temos uma equipe pequena e não atuamos diretamente nas escolas.

Então vocês apoiam os especialistas que atuam diretamente com o público?

Sim. Somos responsáveis pela implementação da política nacional de alfabetização midiática.

A Finlândia incentiva a independência desde cedo. A alfabetização midiática contribui para isso?

Sim, acreditamos que, desde cedo, as crianças conseguem entender e tomar decisões se aprenderem como a mídia funciona. Por exemplo, usamos classificações indicativas para filmes e programas. Estudos mostram que crianças pequenas reconhecem os símbolos e sabem o que podem ou não assistir. Elas também sabem que não gostam de filmes de terror, por exemplo. 

Com o tempo, aprendem regras básicas de convivência digital, como pedir permissão antes de publicar uma foto de alguém. Mais tarde, aprendem a lidar com situações mais complexas. Isso tudo faz parte de uma educação cívica completa.

O objetivo não é tomar decisões por elas, mas ensiná-las a decidir por si mesmas, de acordo com sua idade e maturidade.

Qual é o nível de confiança pública na mídia na Finlândia? E isso tem relação com a alfabetização midiática?

A confiança na mídia é alta. As pessoas confiam bastante nos conteúdos jornalísticos profissionais.
Ainda é relativamente fácil, no nosso contexto, reconhecer os meios jornalísticos — seja online, na TV ou no rádio.

Por isso, as pesquisas mostram uma confiança elevada na mídia na Finlândia.

Quais são os principais desafios para ensinar alfabetização midiática?

O principal desafio é que o cenário midiático muda muito rapidamente. É difícil para os professores acompanharem essas mudanças. Uma das abordagens que usamos é aprender junto com as crianças e jovens.

É importante que pais e professores se interessem pelas mídias que os jovens usam, aprendam com eles e, a partir disso, discutam temas como fake news, tempo de tela, equilíbrio com outras atividades, etc. Encontrar esse equilíbrio é responsabilidade dos adultos.

Quais são as habilidades mais importantes a serem ensinadas?

A mais importante é o pensamento crítico. É entender como a mídia funciona, como você se relaciona com ela e, a partir disso, tomar decisões informadas. Se você vê uma notícia estranha, sabe que pode haver desinformação por trás, então busca outra fonte, conversa com amigos, compara. Essa é a base da alfabetização midiática crítica.

E isso deve ser ensinado também à população adulta. Mesmo com o tema no currículo há anos, nem todos aprendem. Precisamos manter a discussão viva.

Qual mensagem você deixaria para países que desejam fortalecer a alfabetização midiática?

Costumamos evitar dar conselhos diretos, porque sabemos o que funciona na Finlândia, mas cada país tem seu próprio contexto cultural, linguístico e social. É preciso descobrir o que funciona localmente.
O mais importante é manter a discussão sobre alfabetização midiática. Todos precisamos aprender mais sobre isso para sermos melhores cidadãos.

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