Por Maria Carolina Cristianini

O ano de 2021 começou, para muitos estudantes, com o modelo de ensino híbrido. Em um rodízio entre estudar em casa e estar na escola, presente na sala de aula com um número reduzido de alunos, o contato com os meios digitais segue imenso. Aproveitar os momentos dentro do ambiente escolar para estar mais próximo dos materiais concretos e dos recursos físicos, feitos de papel, pode trazer um alívio extra para o momento vivido por crianças e adolescentes em meio à pandemia.

Existe uma diferença importante entre usar os meios digitais para o entretenimento, como acompanhar vídeos de um youtuber do qual o jovem é fã, e se informar por essas mesmas plataformas. A experiência que possuo no contato com crianças e adolescentes por meio do jornalismo infantojuvenil me mostrou, ao longo de mais de uma década, que não se estabelece a mesma conexão. Ou seja, é diferente o envolvimento que o jovem sente ao assistir a um vídeo de alguém que ele admira e ler notícias apenas em formato on-line.

Em contato com um material jornalístico em papel, como o bom e “velho” jornal, o jovem cria uma relação concreta com a notícia. A experiência de folhear um jornal para crianças impresso, compreendendo a divisão física das seções, familiarizando-se com a leitura em ordem de colunas e as diferenças entre os gêneros textuais que compõem uma mesma publicação possibilita um maior envolvimento com o portador e ajuda a aproximar a criança ou o adolescente do mundo das atualidades.

Sabemos que a leitura digital amplia a leitura do impresso e permite o aprofundamento ou o encontro de outras informações e conhecimentos. Daí a importância de os jovens também se informarem por sites de jornais e revistas, por exemplo. Mas é nítida, na experiência de quase dez anos do jornal Joca, de onde sou editora-chefe, que a relação entre o leitor e a versão impressa da publicação é para lá de importante. O contato sistemático com o portador e sua leitura forma o leitor de jornal, além de criar o vínculo entre o jovem e a publicação que foi feita pensando nele – e, muitas vezes, com a ajuda dele, pois a participação de crianças e adolescentes na produção do jornalismo infantojuvenil é vital para que o resultado seja um produto do real interesse desse público.

De volta às escolas, no ensino híbrido, é hora de usar e abusar da experiência física e incomparável de ter um jornal para crianças nas mãos e folheá-lo, observá-lo, com a chance de poder conversar, presencialmente, sobre o que foi lido com colegas e professores. Trata-se de um belo impulso na formação do leitor e criação do hábito da leitura de notícias, e no desenvolvimento do senso crítico a partir da compreensão dos fatos do cotidiano. Sem falar do grande alívio em meio a tantas interferências digitais – positivas e negativas.


Maria Carolina Cristianini
Editora-chefe do jornal Joca, o primeiro e único em seu formato no Brasil em seu formato para crianças e jovens.

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