Oposição não reconhece vitória do presidente venezuelano
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE), órgão responsável por apurar e divulgar os resultados das eleições do país, anunciou, na madrugada de 29 de julho, com 80% das urnas apuradas, que o atual presidente, Nicolás Maduro, reelegeu-se ao cargo, com 51,2% dos votos. Já Edmundo González, principal oponente, somava 44,2%.
Maduro está no poder desde 2013 e, se vencer a disputa atual, deverá permanecer na presidência por mais seis anos. No entanto, os resultados das eleições foram contestados. A oposição, representada por González e María Corina Machado, acusa o governo de manipular a contagem de votos e exige que o CNE entregue as atas (registros) de votação, para que a checagem seja feita. Corina afirmou ainda que teve acesso a mais de 80% das atas, que davam a vitória a González. O opositor se declarou eleito presidente em carta divulgada no dia 5 de agosto. “Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro teve 30%. Essa é a expressão da vontade popular”, diz o texto.
Alguns líderes mundiais também duvidam da vitória de Maduro, como dos Estados Unidos, União Europeia, Chile, Peru, Argentina, Espanha e Colômbia. Outros reconheceram e parabenizaram o presidente venezuelano, como autoridades da Bolívia, Rússia, China, Honduras, Cuba e Nicarágua. O Brasil, em nota oficial, afirmou esperar por dados transparentes da votação.
Desde o anúncio dos resultados, a Venezuela enfrenta uma onda de manifestações clamando por transparência e protestando contra o atual governo. Até a publicação desta edição, 20 pessoas haviam morrido durante os protestos e mais de 2 mil haviam sido presas por se manifestar contra Maduro. Em 31 de julho, o presidente pediu à Suprema Corte venezuelana (maior autoridade da Justiça) que conduzisse uma auditoria (processo de análise) das eleições. A revisão, ocorrida em 2 de agosto, não foi reconhecida pela oposição, uma vez que os integrantes do tribunal foram indicados pelo próprio presidente e são controlados por ele.
O sistema de votação venezuelano é híbrido, ou seja, utiliza tanto contagem virtual como impressa. O voto é registrado em uma urna eletrônica, que o imprime. O eleitor verifica se o papel confere com o que foi selecionado por ele e, por fim, deposita o voto impresso em uma segunda urna. Antes da votação, cada máquina imprime um documento comprovando que todos os candidatos têm zero voto. Ao fim do dia, é impressa uma ata com todos os votos registrados — esse documento pode ser comparado com a urna correspondente de votos impressos. Não há limites na quantidade de vezes que um mesmo candidato pode se reeleger. A população venezuelana não é obrigada a votar, e podem participar cidadãos acima dos 18 anos.
Durante o governo de Maduro, no poder desde 2013, a Venezuela vem enfrentando problemas econômicos e sociais graves. A população sofre com o preço alto de produtos, desemprego e baixos salários. O pico da crise aconteceu entre 2015 e 2017, com a escassez de remédios e comida. Muitos venezuelanos deixaram o país diante dessas condições de vida e por serem perseguidos pelo governo quando reclamavam. Desde 2015, 7,7 milhões de cidadãos (cerca de 25% da população) se mudaram para nações como Colômbia e Brasil.
2013 MORRE O PRESIDENTE VENEZUELANO HUGO CHÁVEZ
Maduro vence as eleições e assume o cargo.
2014 VENEZUELA SE APROFUNDA EM CRISE FINANCEIRA E POLÍTICA
A economia do país tem como base a venda de petróleo, cujo preço desaba mundialmente.
2016 A SITUAÇÃO PIORA COM O AUMENTO GENERALIZADO DE PREÇOS (INFLAÇÃO) Acentua-se a falta de alimentos, remédios, acesso à energia e a produtos de higiene.
2018 MADURO É REELEITO
Oposição acusa fraude nas eleições.
2019 JUAN GUAIDÓ, PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, DECLARASE PRESIDENTE INTERINO
Apesar de receber apoio de países como Estados Unidos, ele não consegue manter o controle do país. Em 2023, Guaidó se exila em Miami.
Junho de 2023 MARÍA CORINA MACHADO É PROIBIDA DE DISPUTAR PRÓXIMAS ELEIÇÕES Justiça venezuelana impede a opositora de Maduro de disputar a presidência por 15 anos.
Março de 2024 CORINA YORIS NÃO SE CANDIDATA
A política não consegue se registrar na plataforma do governo. Edmundo Gonzáles é confirmado candidato pela oposição um mês depois.
Julho de 2024 ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
FONTES: CONSELHO NACIONAL ELEITORAL DA VENEZUELA, EDISON RESEARCH, MEGANALISIS, MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DA VENEZUELA, AGÊNCIA BRASIL, AP NEWS, NICOLÁS MADURO (X), MARÍA CORINA MACHADO (X), EDMUNDO GONZÁLEZ (X), REUTERS, G1, FOLHA DE S.PAULO, O GLOBO, BBC, PODER360 E FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 227 do jornal Joca.
Ainda não é assinante? Assine agora e tenha acesso ilimitado ao conteúdo do Joca.
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.