Uma entrevista com Rodolfo Nogueira, um paleoartista
Você conhece algum paleoartista? Essa é a profissão de Rodolfo Nogueira. Paleoartista é o nome dado a artistas que se especializam em fazer artes de dinossauros. Graças às suas ilustrações, que reúnem descobertas feitas pela ciência ao longo dos anos, é possível ter uma ideia mais clara da aparência que os dinossauros tinham.
Rodolfo já fez ilustrações de mais de 300 animais da pré-história, ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais e, em dezembro de 2020, teve uma de suas ilustrações publicada na capa da Nature, uma das maiores revistas científicas do mundo; publicação trazia um artigo sobre a descoberta do ancestral dos animais pré-históricos voadores, feita por pesquisadores brasileiros e estrangeiros (saiba mais na edição 163 do Joca).
Rodolfo contou sobre a experiência de trabalhar com arte e dinossauros ao mesmo tempo aos repórteres mirins Murilo M., 12 anos, de Osasco (SP), e Pietra P., 10 anos, de São Paulo (SP). Confira.
O que te levou a entrar nessa carreira?
Aos 6 anos, fui a uma excursão no Museu dos Dinossauros, em Uberaba, Minas Gerais. Foi incrível, para mim parecia um lugar mágico. Conforme eu fui crescendo, visitei aquele local várias vezes. Depois, com o passar dos anos, descobri que não queria ser paleontólogo [pessoa que estuda dinossauros], e sim “fotógrafo de dinossauros”, um paleoartista. Assisti ao filme Dinossauro (Disney, 2000) e me dei conta de que o meu desejo mesmo era “ver os dinossauros vivos”, com efeitos especiais, como o filme fez. Então, minha mãe me colocou em um curso de desenho e, quando entrei na faculdade de desenho industrial (hoje se chama design gráfico), comecei a pesquisar mais sobre dinossauros. Assim, fui me envolvendo com a paleoarte.
Além de dinossauros, você já reproduziu outros materiais da pré-história, como folhas antigas?
Os dinossauros fizeram parte da pré-história, mas essa época também teve outros animais e seres vivos. Já reconstruí plantas do passado, lesmas e caracóis pré-históricos, tigre-dente-de-sabre, bichos que morreram e não deixaram descendentes, como Hallucigenia e Anomalocaris — alguns deles tinham aparência bem bizarra (risos). Acho que já devo ter reconstruído mais de 300 animais.
Você já ficou incomodado com a representação dos dinossauros em algum filme?
Sim. Quando eu assisti a Jurassic World, essa nova trilogia lançada em 2015, esperava que a aparência dos dinossauros estivesse muito melhor do que na trilogia antiga [cujo primeiro filme estreou em 1993]. Entre uma versão e outra, passaram-se 20 anos e as pesquisas avançaram muito. Mas, na minha opinião, a aparência dos dinossauros nessa nova trilogia estava pior do que na antiga. Nos filmes mais recentes não colocaram escamas em herbívoros, que, na vida real, tinham escamas; não colocaram penas em carnívoros que tinham penas — inseriram escamas, em vez disso. Eu gosto dos filmes novos, mas essas coisas me irritaram um pouco (risos).
Você já teve uma arte sua publicada na capa da revista científica Nature. Como é o sentimento de ser reconhecido?
Eu fiz o desenho e mandei para a revista, mas não sabia que ele seria colocado na capa. Assim que eu soube, fiquei muito feliz, mas a minha ficha ainda não tinha caído. A ficha só começou a cair depois que a revista já tinha saído. Era um artigo sobre um animal que existia no Brasil, estudado por uma equipe composta principalmente por brasileiros, com uma arte feita por um brasileiro, na capa da maior revista científica do mundo. Fiquei muito feliz. Fui o primeiro brasileiro a fazer um desenho para a capa daquela publicação. Percebi que o planeta inteiro estaria vendo que o Brasil também realiza pesquisas e que a gente também faz descobertas muito importantes.
Você já recebeu algum prêmio pelas suas artes?
Sim, tanto no Brasil como fora do país. Recebi um prêmio da rede de ciências National Geographic, que é entregue pela Sociedade de Paleontologia de Vertebrados, a maior organização de paleontólogos do mundo. Ganhei um prêmio da Espanha de ilustração científica, voltado para animais extintos. Os jurados dessa premiação são as pessoas que inventaram a palavra paleoarte e são considerados os maiores paleoartistas do mundo. Ser reconhecido por eles como o maior paleoartista daquele ano foi uma das maiores honras que eu já tive. Além disso, em 2018, ganhei o Jabuti, o maior prêmio de literatura do Brasil. Venci na categoria melhor livro infantojuvenil com a obra O Brasil dos Dinossauros. Eu fiz as ilustrações e o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli escreveu o texto [leia uma entrevista com ele na edição 118 do Joca].
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 168 do jornal Joca.
Ainda não é assinante? Assine agora e tenha acesso ilimitado ao conteúdo do Joca.
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.