Como vamos nos acostumar com uma escola em que o celular não pode entrar?
Está é a nova coluna do Joca. Crônica é um gênero textual curto escrito em prosa e publicado em jornais, revistas e livros. O texto comenta sobre o cotidiano e pode ser ficcional. Este que você está prestes a ler, por exemplo, não foi redigido por um aluno de verdade.
Não podemos mais entrar com o celular em sala de aula. Simples assim. Eu, como orgulhoso aluno do ensino fundamental, vou documentar aqui como foi a minha primeira semana separado do aparelho que me acompanha desde que eu era bebê.
Dia 0
Um dia antes da volta às aulas, perguntei ao meu pai o que eu e meus amigos podíamos fazer no intervalo e tempo livre sem o celular por perto. Ele disse para conversarmos (que é como criar um grupo de Discord, só que na vida real). Também falou que, no tempo dele, brincava muito de beyblade na escola, que é rodar dois peões de ferro em um balde e torcer para o seu parar de rodar por último. E como é que faz para “upar” de level, desenvolver upgrades e aumentar a árvore de habilidades? Ele disse que não tem nada disso em jogos offline, mas, por outro lado, também não existem microtransações nem loot boxes.
Dia 1
O tempo demorou para passar. Não sabia que um minuto durava tanto. Em um minuto mal dá para assistir a três vídeos inteiros no TikTok, mas dura muito sem o celular por perto. Não dá para colocar a professora em “2x”, então somos obrigados a ouvir na mesma velocidade em que ela fala. Também não dá para dividir a tela e colocar um vídeo satisfatório de alguém amassando slime ao lado da explicação da matéria de biologia. Um minuto dura muito.
Dia 2
Um amigo levou uma coleção de cards de Pokémon para a escola. É igual ao game Pokémon TCG Pocket, mas, em vez de ver as cartas pela tela do celular, você pode pegá-las na mão e ver a tinta impressa no papel (ou no plástico, não entendi que material era aquele). Foi legal.
Dia 3
Acordei menos cansado hoje, com menos preguiça. Minha cabeça está menos… barulhenta? Acredite se quiser: uma menina da outra sala levou tricô para fazer no intervalo. Ela está fazendo um cachecol de lã do zero!
Dia 4
Carlinhos, um amigo meu, disse que, no tempo dos dinossauros, todos os países e continentes eram amontoados, sem mar nenhum os separando. Eu não acreditei. O problema é que não tinha como pesquisar essa informação no ChatGPT para saber quem de nós dois estava certo. Perguntamos para uma professora, e ela disse que sabia a resposta, mas que seria mais legal se fôssemos até a biblioteca e procurássemos nós mesmos.
Encontramos um livro sobre o tempo dos dinossauros e lá estava: um desenho enorme pegando as páginas 15 e 16 inteiras mostrando que, sim, existiu um supercontinente com quase todos os países juntos. Pangeia era o nome.
Dia 5
Levei o livro dos dinossauros para casa. A parte da Pangeia me pegou de verdade. Gostei de saber mais sobre o tiranossauro rex e fiquei sabendo que alguns dinos tinham até penas! Estava na parte sobre mamutes gigantes quando minha mãe bateu na porta do quarto avisando que era hora de dormir. Nem vi o tempo passar. Nem peguei no celular. Esqueci completamente dele. Dei uma olhada nas notificações antes de deitar. Não tinha nada de interessante.
Ah, quase esqueci de dizer: eu ganhei um cachecol!
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Fantástico! Queria que eles conseguissem enxergar dessa forma!
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