Segundo o "Relatório global de monitoramento da educação em 2023", publicado pela Unesco, um em cada quatro países possui algum tipo de restrição em relação ao uso do celular em sala de aula. Crédito de imagem: Getty Images

Está é a nova coluna do Joca. Crônica é um gênero textual curto escrito em prosa e publicado em jornais, revistas e livros. O texto comenta sobre o cotidiano e pode ser ficcional. Este que você está prestes a ler, por exemplo, não foi redigido por um aluno de verdade.

Diário de um Aluno Sem Celular

Não podemos mais entrar com o celular em sala de aula. Simples assim. Eu, como orgulhoso aluno do ensino fundamental, vou documentar aqui como foi a minha primeira semana separado do aparelho que me acompanha desde que eu era bebê. 

Dia 0 

Um dia antes da volta às aulas, perguntei ao meu pai o que eu e meus amigos podíamos fazer no intervalo e tempo livre sem o celular por perto. Ele disse para conversarmos (que é como criar um grupo de Discord, só que na vida real). Também falou que, no tempo dele, brincava muito de beyblade na escola, que é rodar dois peões de ferro em um balde e torcer para o seu parar de rodar por último. E como é que faz para “upar” de level, desenvolver upgrades e aumentar a árvore de habilidades? Ele disse que não tem nada disso em jogos offline, mas, por outro lado, também não existem microtransações nem loot boxes

Dia 1 

O tempo demorou para passar. Não sabia que um minuto durava tanto. Em um minuto mal dá para assistir a três vídeos inteiros no TikTok, mas dura muito sem o celular por perto. Não dá para colocar a professora em “2x”, então somos obrigados a ouvir na mesma velocidade em que ela fala. Também não dá para dividir a tela e colocar um vídeo satisfatório de alguém amassando slime ao lado da explicação da matéria de biologia. Um minuto dura muito. 

Dia 2  

Um amigo levou uma coleção de cards de Pokémon para a escola. É igual ao game Pokémon TCG Pocket, mas, em vez de ver as cartas pela tela do celular, você pode pegá-las na mão e ver a tinta impressa no papel (ou no plástico, não entendi que material era aquele). Foi legal. 

Dia 3 

Acordei menos cansado hoje, com menos preguiça. Minha cabeça está menos… barulhenta? Acredite se quiser: uma menina da outra sala levou tricô para fazer no intervalo. Ela está fazendo um cachecol de lã do zero! 

Crédito de imagem: Getty Images

Dia 4 

Carlinhos, um amigo meu, disse que, no tempo dos dinossauros, todos os países e continentes eram amontoados, sem mar nenhum os separando. Eu não acreditei. O problema é que não tinha como pesquisar essa informação no ChatGPT para saber quem de nós dois estava certo. Perguntamos para uma professora, e ela disse que sabia a resposta, mas que seria mais legal se fôssemos até a biblioteca e procurássemos nós mesmos. 

Encontramos um livro sobre o tempo dos dinossauros e lá estava: um desenho enorme pegando as páginas 15 e 16 inteiras mostrando que, sim, existiu um supercontinente com quase todos os países juntos. Pangeia era o nome. 

Dia 5

Levei o livro dos dinossauros para casa. A parte da Pangeia me pegou de verdade. Gostei de saber mais sobre o tiranossauro rex e fiquei sabendo que alguns dinos tinham até penas! Estava na parte sobre mamutes gigantes quando minha mãe bateu na porta do quarto avisando que era hora de dormir. Nem vi o tempo passar. Nem peguei no celular. Esqueci completamente dele. Dei uma olhada nas notificações antes de deitar. Não tinha nada de interessante. 

Ah, quase esqueci de dizer: eu ganhei um cachecol! 

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Comentários (1)

  • Planeta Educação Gráfica e Editora Ltda Planeta Educação Gráfica e Editora Ltda

    4 dias atrás

    Fantástico! Queria que eles conseguissem enxergar dessa forma!

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