Helena Rinaldi

A Petrobras, empresa que produz combustíveis e tem o governo brasileiro como principal “dono”, anunciou um aumento de 8,87% no preço do diesel em 10 de maio. Este é o segundo reajuste no combustível em 60 dias — em 10 de março, o diesel já tinha subido 24,9%. Na comparação com o preço do litro do diesel no começo de março, o valor do litro depois da nova alta está 36% maior. Isso leva o custo de diversos produtos, incluindo o dos alimentos, a subir também.

“No Brasil, as mercadorias são transportadas, predominantemente, em caminhões [que usam o diesel como combustível]. Como o custo do diesel aumentou, o custo do transporte sobe. Isso gera inflação, ou seja, aumento de preços generalizado”, explica Carlos Heitor Campani, professor de finanças da escola de negócios Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O aumento do diesel, que eleva o valor do transporte, acaba sendo repassado para a venda dos itens levados pelos caminhões. “A inflação, não apenas a oficial do governo, medida pelo IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo], como a nossa inflação do dia a dia, já está sendo sentida. Basta ir ao supermercado para ver como os preços subiram”, diz Campani.

Por que o preço dos combustíveis aumentou?
De acordo com o especialista, o aumento se dá por duas razões. Uma delas é a guerra na Ucrânia.“A Rússia é importante no cenário econômico internacional. Você pode ver escassez, principalmente, dos produtos em que a Rússia tem impacto na produção, porque os países estão querendo fazer o mínimo possível de negócios com ela.” Um dos produtos influenciados pela Rússia é o petróleo, que dá origem à gasolina e ao diesel. Como muitas nações não estão mais comprando petróleo da Rússia, há um produtor a menos no mercado, o que faz os preços subirem.

O outro motivo é o aumento do dólar em relação ao real, já que o Brasil usa petróleo vindo do exterior. “O dólar, no início do ano, andou caindo, então o preço dos combustíveis não aumentou tanto. Mas, logo depois, voltou a dar uma subida, e estamos vendo o preço da gasolina subir também”, explica Campani.

O valor dos combustíveis também varia pelo Brasil, pois alguns impostos que interferem no preço final são esta- duais. “No Rio de Janeiro, você vê a gasolina praticamente a 8 reais por litro. Há cinco anos, se alguém falasse nesse preço por aqui, ninguém acharia possível”, comenta ele.

Falta de peças
Não são só os combustíveis que têm afetado os preços no Brasil. Algumas empresas também estão enfrentando falta de peças para produção, o que pode ser refletido na ausência de itens no mercado nacional e no aumento de preços. Além de diversos países não estarem negociando com a Rússia (fornecedora de alguns materiais), os recentes lockdowns na China estão dificultando o acesso às peças, já que importantes companhias que produzem matérias-primas foram paralisadas pelos confinamentos, como o ocorrido em Xangai (relembre na edição 186).

“Se tem falta de matéria-prima [como algumas peças para fazer carros], não é possível produzir. Isso é o que está acontecendo, por exemplo, no mercado automobilístico brasileiro. Como não tem como colocar os funcionários para trabalhar, as empresas dão férias, esperando que isso passe logo e tudo se restabeleça para que eles voltem tendo o que produzir”, explica Campani. Uma das companhias a adotar a medida foi a Volkswagen do Brasil, que definiu férias de 20 dias para cerca de 2.500 funcionários a partir de 9 de maio.

Fontes: Agência Brasil, BBC, CNN, Estadão e UOL.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 188 do jornal Joca.

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