Dos cinco artistas nomeados ao Grammy 2021 de melhor álbum infantil, três recusaram a indicação ao prêmio. Esse foi o jeito que eles encontraram para protestar contra a ausência de pessoas negras na categoria. As bandas Okee Dokee Brothers e Dog on Fleas e o cantor Alastair Moock comunicaram a decisão, em dezembro, nas redes sociais.

No texto, eles dizem que a indicação de somente artistas brancos — e apenas uma mulher — para melhor álbum infantil não é de hoje. Segundo os músicos, nos últimos dez anos, só 6% das indicações da categoria foram para pessoas negras e 30% para mulheres.

Os artistas se disseram decepcionados após um ano de tantos protestos e debates sobre racismo nos Estados Unidos, onde a premiação é realizada, com o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam, em português —saiba mais na edição 151 do Joca). Além disso, nos EUA, mais da metade das crianças não são brancas. Os artistas declararam esperar que mais mulheres e pessoas negras sejam indicadas à categoria de melhor álbum infantil no próximo ano.

A diretora de diversidade, equidade e inclusão do Grammy, Valeisha Butterfield Jones, declarou à rádio norte-americana NPR que a organização do prêmio tem se esforçado para aumentar a diversidade, mas justificou que os desafios para conquistar mais igualdade continuam sendo enfrentados no mundo todo. “Ainda temos muito trabalho a fazer”, admitiu. 

Com a saída dos três indicados, o melhor álbum infantil será disputado por dois artistas: a cantora Joanie Leeds e o músico Justin Roberts. Joanie foi apoiada pelos que deixaram a premiação a continuar na disputa por ser a única representante mulher. O álbum dela, All the Ladies, foi feito por 20 mulheres e aborda a igualdade entre os gêneros.

Adiamento

Em 5 de janeiro, a cerimônia do Grammy 2021 foi adiada de 31 de janeiro para 14 de março. O motivo é o crescimento dos casos de covid-19 em Los Angeles, cidade dos EUA onde o evento é realizado. A premiação deste ano terá apenas a presença de artistas e apresentadores para evitar aglomerações, sem público.

O que é o Grammy? 

Conhecido como “Oscar da música”, é realizado anualmente, há mais de 60 anos. Os indicados e vencedores são escolhidos pelo voto de integrantes da Academia de Artes de Gravação, associação que organiza o prêmio. O nome da premiação é inspirado no troféu: uma estatueta em forma de gramofone, aparelho criado no século 19 para tocar música.

O que eu penso sobre…

“O Grammy por muitos anos foi uma premiação extremamente racista, mas também uma das maiores da música. Então ver que tem artistas negros se fortalecendo a ponto de [indicados ao premio] não participarem dessa premiação [para apoiá-los] é muito bom. Ver pessoas negras conquistando seus lugares é incrível, porque há anos estão tentando tirar isso da gente. É importante ver pessoas negras na música principalmente pela representatividade, pelo fato de crianças como eu acharmos que é possível alcançar esses cargos.” Geovana R., 13 anos, de Camaçari (BA)

“Acho que os artistas que recusaram a indicação fizeram o certo, mas também acho que eles mereciam aquele prêmio pelo seu esforço. Esse tipo de atitude ajuda a combater o racismo porque esses três artistas podem mostrar a importância de valorizarmos artistas negros para termos igualdade racial. Temos que mostrar que precisamos de igualdade – não só no Grammy, mas em outros lugares – e acredito que através da música podemos passar essa mensagem.” Felipe R., 11 anos, de Camaçari (BA)

*Esta matéria é uma versão estendida da reportagem publicada na edição 163 do Joca.

Fontes: Folha de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Grammy, NPR, página do Facebook dos The Okee Dokee Brothers e Rolling Stone.

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