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De acordo com dados divulgados em fevereiro pela Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, apenas 14% das escolas públicas de todo o país dispõem de um grêmio estudantil. O levantamento, que utilizou dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2023, mostra que, desde 2019, houve um aumento de 1,4% na presença dessa iniciativa em escolas brasileiras.

O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 objetivava que 100% das escolas do Brasil tivessem em funcionamento um grêmio estudantil até 2016, o que não aconteceu, mesmo com a medida sendo assegurada pela Lei 7.398/1985 (Lei do Grêmio Livre).

“Uma escola democrática e antirracista só é possível com grêmios escolares fortes, e foi por isso que resolvemos apoiar os estudantes e movimentos estudantis nessa busca de consolidação e criação de grêmios nas escolas”, afirma em nota oficial Andressa Pellanda, coordenadora-geral da campanha, sobre o projeto de mapeamento dos grêmios brasileiros.

A análise mostra que entre as regiões do país, o Sudeste é a que possui mais escolas com grêmios: 24% do total. Proporcionalmente, as unidades de ensino que atendem alunos com melhor nível socioeconômico têm mais grêmios do que as de pior nível, 64% contra menos de 20%. Além disso, a pesquisa evidencia que o movimento é mais presente nos anos do ensino médio, em escolas urbanas e unidades de ensino federais e estaduais. 

O que é e para que serve o grêmio estudantil?

O grêmio é uma organização composta por estudantes para que os interesses de todos sejam representados na comunidade escolar. Uma chapa com diferentes membros (presidente, secretário, tesoureiro etc.) é eleita por votação dos próprios jovens. Assim, eles ganham um espaço democrático em que propõem sugestões e fazem reivindicações para melhorar a vida estudantil.

“O grêmio estudantil é eleito pelos alunos pela identificação sentida entre eles e as pessoas da chapa, ou seja, estamos lá para representá-los, já que vivenciamos as mesmas coisas no dia a dia escolar. Quando nos reunimos para discutir o que fazer para ajudar, descobrimos diferentes formas de ideais, porque o grêmio é formado por vários integrantes e cada pessoa está lá retratando alguém ou algum grupo. Participar do grêmio, para mim, é como um aprendizado de vida. Em março, iremos arrecadar absorventes o mês inteiro para alunas carentes”, conta Ana S., 17 anos, participante do Grêmio Paulo Freire, do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), campus Suzano. 

Segundo a jovem, a ideia da campanha de arrecadação de absorventes surgiu após um estudo sobre a pobreza menstrual, cenário onde há a falta de acessos e meios para que meninas possam continuar atividades rotineiras normalmente durante o período menstrual. A doação de absorventes é uma das formas de combater a situação. “Muitas pessoas nem imaginam que isso aconteça, já que existe um tabu quando falamos de menstruação. As meninas costumam sentir vergonha, ou acreditam que só ela passa por isso e ninguém a entenderia. Por isso, queremos que as estudantes vejam que não estão sozinhas”, explica Ana.

Ana S., 17 anos. Arquivo Pessoal

Eleições do Grêmio em São Paulo

Em fevereiro, todas as escolas municipais de São Paulo também iniciaram o processo eleitoral para escolher os novos representantes dos grêmios estudantis. O período das eleições vai até 28 de março de 2025, e mais de 600 unidades da Secretaria Municipal de Educação irão eleger gremistas para a nova leva.

“O grêmio estudantil proporciona um espaço para o exercício da cidadania, a promoção de mudanças na escola e o desenvolvimento de habilidades de convivência e colaboração. Aprender a se organizar coletivamente é extremamente importante, pois ensina a trabalhar em grupo, conciliando interesses diversos e buscando soluções coletivas. Esse aprendizado prepara os estudantes para a vida em sociedade”, declara sobre as eleições Cleber Gonçalves, porta-voz da Coordenadoria dos Centros Educacionais Unificados (Coceu).

Para além do âmbito estudantil, a experiência de participar de um grêmio é algo a ser levado para a vida profissional, ademais de ser um ganho de experiência.

“O que eu levei de participar do grêmio é a responsabilidade e o comprometimento com os alunos. Em muitas situações, para representar e ajudar todos, é preciso aprender a ter uma visão estratégica. Isso é algo que você leva para a vida, são características que tenho hoje”, conclui Richard, ex-presidente do grêmio da Emef Professor Antônio de Sampaio Doria.

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